Título: Unesco: nova visão para o século 21
Autor: Ferrero-Waldealder, Benita
Fonte: Correio Braziliense, 14/09/2009, Opinião, p. 15

Comissária das Relações Exteriores da União Europeia

Em nosso mundo complexo e interligado, com suas grandes oportunidades e desafios comuns, precisamos de instituições globais que superem as divisões políticas e econômicas e unem as pessoas em torno de valores comuns. A Unesco, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, foi fundada na convicção de que a educação, a ciência, o respeito pela diversidade cultural e a comunicação são essenciais para ¿construir a defesa da paz nas mentes dos homens e mulheres¿. Creio, portanto, que a Unesco pode fazer uma contribuição crucial para a promoção da governança global justa, do desenvolvimento sustentável, da diversidade cultural e da participação democrática a fim de enfrentar os desafios globais que afetam a todos nós.

Hoje, essa visão é mais relevante do que nunca: para evitar um potencial conflito de ignorância, para enfrentar os desafios globais que afetam a todos nós, desde a erradicação da pobreza e da falta de acesso à educação, às alterações climáticas e ao desenvolvimento econômico, e para promover intercâmbios culturais e científicos essenciais para compartilhar os benefícios da globalização.

O meu país, a Áustria, apresentou a minha candidatura para o cargo de diretora-geral da Unesco. Se eleita, pretendo reforçar esse papel como uma construtora de pontes entre as culturas, religiões e civilizações. Gostaria, portanto, de reforçar o papel da Unesco como potência de diálogo cultural internacional e como guardiã da diversidade de expressão cultural. Igualmente, a Unesco deve reforçar suas principais atividades na área da proteção e promoção do patrimônio cultural e natural.

A Unesco deve continuar a servir como uma consciência global e um fórum para a fixação de normas sobre a ética na ciência e tecnologia. A instituição tem uma trajetória impressionante na observância da ética, e eu tenho a intenção de reforçar essa função, já que os novos desenvolvimentos científicos estão tendo resultados, com base na Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos e a Declaração Internacional sobre Dados Genéticos Humanos. A abordagem ética da Unesco para o progresso científico é altamente relevante para a gestão das transformações sociais produzidas pela globalização.

Promover a educação para todos é mais uma das prioridades. A educação é o caminho mais seguro para sair da pobreza e uma pré-condição para a autodeterminação na vida. Gostaria, portanto, de aumentar os programas de alfabetização, trabalhar duro para o acesso universal à educação ¿ especialmente para meninas e mulheres jovens ¿ e estabelecer mais parcerias com o setor privado em novas tecnologias.

Isso não só é crucial para lançar as bases para o desenvolvimento econômico e a boa governança, mas também para estreitar as diferenças de conhecimento que ainda persistem parcialmente, e a fratura digital entre o Norte e o Sul. A Unesco já providencia aumento no valor na execução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, contribuição fundamental que deve ser reforçada.

Além disso, a Unesco tem um papel especial na capacitação das mulheres para desempenhar plenamente o seu papel na sociedade do século 21. O mundo não se pode dar ao luxo de deixar o potencial da metade de seus cidadãos inexplorado. Com base na minha rede internacional de líderes femininas, gostaria de continuar a reforçar a proteção das mulheres nas sociedades em conflito e, em especial, reforçar sistemas de bolsas e facilidades de financiamento para permitir-lhes a construção de sociedades justas e seguras.

Por último, os direitos humanos, no sentido mais amplo, devem permanecer no centro do trabalho da Unesco. Sem a liberdade básica do medo e da miséria, não pode haver paz e prosperidade. Com base no meu forte compromisso com a ação humanitária, gostaria de colocar ênfase particular na educação em direitos humanos e na luta contra as novas formas de discriminação, por exemplo, no campo social e médico.

Em todas essas áreas, a Unesco pode desempenhar papel ainda mais importante. Minha ambição, é portanto, a de elevar o perfil político da organização, realizar o seu verdadeiro potencial e dar-lhe a visibilidade que merece. No século 21, as instituições internacionais têm missão clara a realizar: fortalecer a cultura global de paz por meio da cooperação.