Título: Entre Brasil-EUA, a China é hoje uma das grandes preocupações
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 10/04/2012, Economia, p. 18

Entre Brasil-EUA, a China é hoje uma das grandes preocupações

Na pauta de negociações, aposta em tecnologia e exportações diversificadas

A relação entre Brasil e EUA está aquém do que poderia ser, considerando-se o tamanho das duas economias, dizem especialistas em relações internacionais. Apesar disso, nota-se um esforço da presidente Dilma Rousseff em buscar uma relação mais qualificada, com diversificação da pauta de exportações e aposta em inovação e tecnologia. Estratégia que se segue ao legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de projeção do Brasil no exterior. Por outro lado, acrescentam, há uma preocupação dos EUA com a relação especial de Brasil e China.

- As relações entre o Brasil e os EUA são muito aquém do que poderiam ser; é um namoro sem entusiasmo. Trata-se do maior país da América do Sul com o maior país das Américas, deveria levar a uma aliança mais estratégica - afirma o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Analistas veem diferenças nas gestões de Lula e Dilma

Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio Pedro Cunca Bocayuva, porém, Dilma está aos poucos imprimindo sua marca na política externa brasileira. E tem apostado na indústria.

- A cara do Lula era projetar o Brasil no contexto internacional. A Dilma está dando sua cara, que é qualificar as relações. Ela está qualificando as relações com os EUA. Há um desejo por diversificação das exportações e uma agenda científico-tecnológica que é muito interessante. Vendemos suco de laranja e avião para os EUA, há um ganho grande em diversidade - diz Bocayuva, acrescentando que a busca de qualificação também se reflete nas relações do Brasil com o BRICs (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), sobretudo com a China.

Para Castro Neves, há apenas uma mudança de retórica entre Lula e Dilma. Enquanto o ex-presidente era mais ativista e dava sua opinião sobre diferentes assuntos, no governo Dilma "a retórica é mais sossegada":

- Mas não muda muito a relação entre Brasil e EUA. A questão é que ainda persiste, em Washington e em Brasília, uma percepção maniqueísta que remete à Guerra Fria. Por mais que Obama faça ruídos de uma parceria mais importante, acaba caindo na burocracia do Departamento de Estado.

O professor da PUC-Rio também acredita que a visão dos EUA em relação ao Brasil não mudou e o país não ameaça ou incomoda os vizinhos do Norte. Avaliação diferente tem o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves, que acha que os EUA veem a importância cada vez maior do Brasil.

- A percepção dos EUA em relação à nós mudou. O Brasil é um país cada vez mais importante e os EUA se preocupam com nossa relação especial com a China. Além disso, é o único interlocutor confiável na América do Sul - diz Gonçalves.

Bocayuva cita a agenda de energia como uma mudança entre Lula e Dilma. Enquanto o primeiro exaltava o potencial do biodiesel, do etanol e do pré-sal, Dilma vai além desta agenda.

- Não podemos ficar prisioneiros da área de energia. A presidente Dilma sabe disso e está tentando fortalecer a indústria - diz Bocayuva.