Título: Araponga era segurança da Delta
Autor: Bruno, Cassio
Fonte: O Globo, 16/04/2012, O País, p. 3

Braço-direito de Cachoeira trabalhava na empreiteira, usada para encontros da quadrilha

O escritório da Delta Construções em Goiânia serviu para diversos encontros de negócios da quadrilha do contraventor Carlos Augusto Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso acusado de explorar jogos de azar em Goiás e no Distrito Federal. De acordo com os relatórios da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal em 29 de fevereiro, Cachoeira e integrantes do grupo usaram o escritório da empresa para, entre outras ações, obter junto à cúpula de Segurança Pública de Goiás o vazamento de informações sobre as operações realizadas pela Polícia Civil contra a prática do jogo ilegal. O relatório mostra que a proximidade com a Delta também levou Cachoeira e Idalberto Matias, o Dadá, o seu braço-direito, a utilizarem as dependências da construtora em Goiânia para fazer reuniões. No relatório, Dadá é identificado como segurança da Delta, assim como André Teixeira Jorge, apontado como "laranja" de Cachoeira.

Apesar de o escritório de Cachoeira funcionar no mesmo prédio da Delta, o documento da PF confirma que as reuniões ocorreram no escritório da empresa. Cachoeira se reuniu em 30 de maio do ano passado com o delegado Hylo Marques Pereira. Nas interceptações telefônicas, de 11h29m, Cachoeira marca o encontro com Hylo na Delta às 13h30m. Para a polícia, o encontro dos dois também foi para que o contraventor agilizasse a liberação de materiais da quadrilha apreendidos. Em outro trecho do diálogo telefônico, em 14 de março do ano passado, às 9h11m, Cachoeira diz a Lenine Araújo de Sousa, um dos homens de confiança do contraventor, segundo a PF, que o está esperando na sede da Delta em Goiânia.

- Oh, Lenine, eu tô aqui, ué - disse Cachoeira.

- Na Delta? - pergunta Lenine.

- Tô aqui, onde é que você está? - quis saber Cachoeira.

- Tô aqui no trevo de Goiânia, passando aqui em frente ao aeroporto - responde Lenine.

- Tô aqui na Delta, vem cá - pediu Cachoeira.

- Tá. Tô chegando - encerrou Lenine.

Conforme O GLOBO mostrou ontem, a Delta é apontada como integrante do esquema, com repasses de dinheiro para empresas de fachada - a Brava Construções e a Alberto & Pantoja, entre 2010 e 2011. Os saques eram feitos pelo tesoureiro da quadrilha de Cachoeira, Giovane Pereira da Silva, em valores de no máximo R$ 99 mil - para escapar ao controle do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que fiscaliza a movimentação de valores acima de R$ 100 mil.

Para a PF, o ex-diretor da Delta Claudio Abreu é sócio informal de Cachoeira. No dia 28 de janeiro de 2011, Geovani, que é identificado como o tesoureiro do grupo, atende uma ligação de Gleyb Ferreira (ligado a Cachoeira), que, segundo a PF, confirma a relação de sociedade entre Claudio e o bicheiro. Segundo a polícia, o pagamento seria "possivelmente referente ao retomo dos pagamentos superfaturados que a empresa Delta ganha com seus contratos com poder público". Num dos diálogos que mais mostram a proximidade da Delta com a organização criminosa, Claudio Abreu avisa que a construtora fará repasses de R$ 700 mil.

A Delta nega que "pessoas estranhas" tenham se reunido no escritório da empresa. Alega que a PF não denunciou o caso à Justiça Federal, embora o fato esteja no inquérito. A Delta também negou que Dadá fosse segurança da construtora, apesar de o nome dele aparecer no relatório da PF nessa função. Sobre André Teixeira Jorge, a Delta informa que ele era motorista de Claudio Abreu e que ambos já foram afastados.