Título: Planalto silencia, mas há temor na Petrobras
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 18/04/2012, Economia, p. 24

Em audiência no Senado, Lobão minimiza problemas com a Argentina e afirma que nacionalização é assunto interno

BRASÍLIA e RIO. O Palácio do Planalto não quis comentar a decisão da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de nacionalizar a petrolífera YPF, da espanhola Repsol, alegando tratar-se de assunto interno. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o Brasil não está preocupado com o risco de o governo argentino nacionalizar as unidades da Petrobras naquele país, mas por trás da aparente tranquilidade, há no governo, e em especial na Petrobras, apreensão em relação aos investimentos brasileiros no país vizinho. O assunto foi discutido ontem em reuniões reservadas na Petrobras e a ordem é acompanhar os desdobramentos da decisão do governo argentino.

Nos bastidores, a avaliação é que ainda é cedo para prever os próximos passos dos argentinos. Há algumas semanas, a província de Neuquén cancelou uma concessão da Petrobras e surpreendeu o governo brasileiro. Interlocutores argentinos se apressaram em informar ao Executivo brasileiro que teria sido uma medida isolada e que o governo federal estaria atuando para contornar a situação.

Publicamente, o discurso do ministro de Minas e Energia refletiu a disposição do governo brasileiro de tratar o assunto com diplomacia. Em audiência no Senado, Lobão contou que se reuniu recentemente com a presidente argentina e trataram da Petrobras.

- O ambiente era de absoluta tranquilidade em relação a nossa empresa. (...) Eu não acredito que haja qualquer problema com a Petrobras. O ambiente é de absoluta normalidade e eu não quero adiantar problemas onde não os vejo - afirmou.

Na sexta-feira, Lobão receberá o ministro do Planejamento e Obras Públicas, Julio De Vido, e a presidente da Petrobras, Graça Foster, para tratar da Petrobras, que tem uma rede de 79 postos de distribuição de combustível, além de planta de exploração de petróleo na Argentina.

Os dois países vinham negociando mais investimentos brasileiros no setor de petróleo e gás em território argentino. A própria Cristina Kirchner havia feito a Lobão, no começo de março, um apelo por maior participação da estatal brasileira em seu país. O encontro entre De Vido e Graça Foster é resultado desta reunião. Cristina pediu a Lobão que intermediasse o encontro.

Ele esteve na capital argentina para acompanhar a entrega de propostas de consórcios de empresas internacionais para elaborar o projeto de um grande empreendimento conjunto. São duas hidrelétricas binacionais, Garabi e Panambi, no trecho do Rio Uruguai. A potência máxima dos dois empreendimentos será de 2.200 megawatts, construídos por intermédio da Eletrobras e da Emprendimientos Energéticos Binacionales S.A. (Ebisa) em quatro anos. Ainda não há um valor estimado para as obras, mas o ministro Lobão disse ao GLOBO que projeto semelhante no Brasil custa em torno de US$ 4 bilhões.

Graça Foster: surpresa e respostas aos argentinos

A presidente da Petrobras vai se reunir com sua diretoria da área internacional, para definir a posição da companhia no encontro com o ministro do Planejamento argentino sexta-feira. Apesar de dizer que não sabe, ainda, agenda da reunião, Graça tratará das operações na Argentina. A presidente da estatal voltou a afirmar que foi surpreendida com a decisão da Província de Neuquén de revogar o contrato de concessão da Petrobras na região, garantindo que sempre cumpriu com os investimentos mínimos exigidos.

- A Petrobras vai estar pronta para responder a todas as perguntas que vierem - afirmou Graça.

As recentes barreiras comerciais impostas pela Argentina às importações preocupam outros parceiros do Mercosul e estarão entre os principais temas da pauta do encontro do presidente do Uruguai, José Mujica, com a presidente Dilma Rousseff, amanhã. As restrições têm prejudicado o Uruguai, que se preocupa também com os efeitos que podem ter no âmbito das negociações comerciais entre Mercosul e União Europeia.

* COLABOROU Ramona Ordoñez