Título: Ministro do Supremo nega anulação de provas pedida por defesa de Demóstenes
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 14/04/2012, O País, p. 3

Ministro do Supremo nega anulação de provas pedida por defesa de Demóstenes

Liminar mantém validade de gravações, mas o mérito do pedido ainda será julgado

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) sofreu ontem sua primeira derrota no campo jurídico. O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou pedido de liminar para desconsiderar gravações telefônicas em que o senador trata dos interesses do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, feitas durante a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Lewandowski não entrou no mérito da validade das provas, o que será definido quando a liminar for a plenário.

A estratégia de Demóstenes é tentar desconstruir o processo. Na defesa que apresentará ao Conselho de Ética do Senado, ele tentará desqualificar a representação do PSOL que deu origem ao processo por quebra de decoro parlamentar. Alegará que tudo se baseou em notícias da imprensa.

Demóstenes tem até 25 de abril para enviar a defesa prévia. Apesar de o julgamento no conselho ser político, ele espera que a anulação das gravações de suas conversas com Cachoeira tire o fôlego do processo.

A defesa do senador pedira a desconsideração das gravações, já que elas foram feitas sem a autorização do STF, foro competente para julgar congressistas. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, refutou a tese. Alegou que o foco das operações era Cachoeira, e não Demóstenes.

Ontem, novas gravações da Polícia Federal divulgadas pelo "Jornal Nacional" mostram que Cachoeira teria pagado fogos de artifício da formatura da mulher de Demóstenes. O diálogo é entre Wladimir Garcez, ex-vereador de Goiânia e número dois na organização de Cachoeira, e Geovanni Pereira, contador do contraventor, foragido.

- Tem hoje uns foguetes aí que tem que pagar, que é da colação de grau da esposa do Demóstenes, tá? Aí, eu vou te passar depois o número de uma conta. Você faz direto o depósito aqui para a gente, tá? Ele (Cachoeira) deu de presente para ela - diz Garcez.

- Tá beleza - responde Pereira.

O Conselho de Ética está pedindo novamente a Lewandowski cópia dos autos da Operação Monte Carlo. Ele negou pedido semelhante feito pela Corregedoria do Senado, alegando que o inquérito está sob segredo.

A pena máxima para quebra de decoro é a cassação de mandato. O presidente do Conselho de Ética, senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), resumiu a situação:

- Há um clima de total frieza, constrangimento e decepção, uma vez que (Demóstenes) era uma das figuras mais proeminentes do Senado, um homem acima de qualquer suspeita - disse Valadares, que ponderou: - Aqui não é um tribunal inquisitório, nem o presidente nem o relator podem ser considerados carrascos.

O relator do processo será o senador Humberto Costa (PT-PE).