Título: Dilma volta a criticar bancos e pede padrão internacional para os juros
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 14/04/2012, Economia, p. 28

Presidente diz que taxas cobradas são entrave para o crescimento do país

BRASÍLIA. Um dia após a reação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, às exigências dos bancos privados para baixar juros, a presidente Dilma Rousseff reforçou as críticas, apontando os spreads elevados como um dos principais entraves ao crescimento do Brasil. Em discurso numa solenidade na Confederação Nacional da Indústria (CNI), ela afirmou que esses obstáculos precisam ser desmontados para que o país tenha taxas semelhantes aos padrões internacionais. O spread é a diferença entre o custo de captação dos bancos e as taxas cobradas por essas instituições nos empréstimos.

- Temos de desmontar alguns entraves ao nosso crescimento sustentável e continuado. Esses entraves podem ser resumidos muito simplificadamente na necessidade de nós colocarmos os nossos juros e spread incluídos nos padrões internacionais de custo de capital - disse a presidente, sendo aplaudida pela plateia, durante a apresentação do do Programa de Apoio à Competitividade da Indústria.

Presidente admite que impostos são entrave

Dilma reconheceu, porém, que a carga tributária é outro obstáculo ao crescimento, admitindo a necessidade de desoneração tributária:

- Sabemos que é essencial (a desoneração) porque o Brasil tem hoje certas estruturas tributárias que se tornam muito pesadas para serem carregadas num processo de crescimento sustentável.

As críticas ao sistema financeiro privado decorre, segundo fontes do governo, da radicalização dos bancos. A presidente ficou irritada com a postura do setor, que, na leitura do governo, apresentou cobranças para reduzir seus custos, em vez de soluções. A postura dos banqueiros inviabilizou a negociação.A estratégia do governo é esperar que o setor tome a iniciativa de reduzir encargos, como fez o HSBC, seguindo o exemplo do Banco do Brasil e da Caixa, que fizeram cortes nas taxas para não perder mercado. Caso o setor continue intransigente, a equipe econômica teria ainda um arsenal de medidas, mantidas por enquanto sob sigilo.

Após o evento, o presidente da CNI, Robson Andrade, disse acreditar que a decisão do governo de usar os bancos oficiais para reduzir juros vai forçar a competição e a queda nas taxas cobradas pelas instituições.

-Temos certeza de que os spreads podem cair no Brasil. Os bancos oficiais vão fazer com que o setor privado reveja seus cálculos - afirmou.

No discurso, a presidente Dilma também citou como entraves ao crescimento o problema do câmbio. Ela reafirmou que o Brasil vai continuar atento aos mecanismos adotados pelos países desenvolvidos para sair da crise, como a injeção de recursos em suas economias e a desvalorização artificial de suas moedas, para evitar que as empresas nacionais entrem em processo de "desconstituição e de canibalização":

- Não há hipótese de o Brasil dar certo, se nós não tivermos uma indústria forte. Temos que ter capacidade de crescer sem gerar inflação.

Influenciadas pela discussão do governo sobre spread, as ações do bancos voltaram a cair ontem. As preferenciais de Itaú Unibanco perderam 3,88% e as do Bradesco, 2,01%. As ordinárias (ON, com voto) do Banco do Brasil perderam 2,7%.