Título: Pequim e Madri derrubam bolsas globais
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 14/04/2012, Economia, p. 30

Crescimento chinês menor desfaz expectativas e dívida espanhola assusta. Ibovespa cai 1,51% e dólar sobe 0,55%

RIO, PEQUIM E MADRI. A desaceleração da economia da China e a volta das preocupações em relação à dívida da Espanha levaram pessimismo aos mercados ontem, dando espaço para correções após as fortes altas nas bolsas na quinta-feira. As principais praças da Europa fecharam com fortes perdas. O destaque foi a Bolsa de Madri, que despencou 3,58%, maior queda desde 2009. Também recuaram as bolsas de Londres (1,03%), Paris (2,47%) e Frankfurt (2,36%). Em Milão, a queda foi de 3,43%. No Brasil, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), caiu 1,51%, a 62.105 pontos. Já o dólar comercial subiu 0,55%, a R$ 1,84, maior cotação desde 6 de janeiro.

Se na quinta-feira as bolsas subiram na expectativa de que a China pudesse crescer acima do esperado, causou decepções a confirmação do avanço de 8,1% anualizados no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos num país) no primeiro trimestre, menor taxa desde 2009 e abaixo das estimativas. Nos Estados Unidos, caíram os índices Dow Jones (1,05%), S&P 500 (1,25%) e Nasdaq (1,45%).

- Os fundamentos voltaram a prevalecer sobre as expectativas. Os dados da China não foram bons. Talvez a desaceleração tenha vindo para ficar - analisa Rogério Freitas, sócio da gestora Teórica Investimentos, para quem o governo chinês pode induzir a um crescimento menor, mais atrelado ao mercado interno.

Mercados exageram nas reações, diz professor

Menos pessimista, a economista-chefe da corretora Icap Brasil, Inês Filipa, prefere esperar os dados do segundo trimestre, pois ainda não há uma tendência clara para o crescimento da China no ano. Ela lembra que Pequim já reduziu a meta de crescimento para este ano e a ênfase num crescimento mais voltado ao mercado interno não preocupa.

Como os mercados financeiros lidam com expectativas, porém, eles são os primeiros afetados pela ameaça de desaceleração, exagerando nas reações. Para o professor Eduardo Costa Pinto, do Instituto de Economia da UFRJ, os dados divulgados ontem mostram um "pouso suave" no crescimento chinês.

A expansão recente da China tem sido baseada em exportações e investimentos em infraestrutura, gerando demanda por petróleo, minério de ferro e alimentos, elevando os preços. O Brasil, produtor de vários insumos, se beneficia disso. Para Inês Filipa, mais do que derrubar as cotações de matérias-primas, a desaceleração chinesa pode afetar negativamente as expectativas dos empresários.

Já o professor Costa Pinto não vê um cenário tão negativo para os preços das matérias-primas, com exceção da reação imediata dos mercados. O "pouso suave" e a mudança no padrão econômico, com peso maior no consumo interno, não deverão derrubar as cotações das matérias-primas.

- Com os últimos anos de crescimento, a economia da China ganhou peso e, agora, uma alta menor, de 8% no PIB, segue tendo impacto enorme - diz Costa Pinto, lembrando que o maior consumo interno significa demanda por alimentos.

Na Europa, as bolsas sofreram ontem sobretudo por causa da Espanha. O Banco da Espanha (banco central espanhol) anunciou que os bancos do país tomaram emprestado do Banco Central Europeu (BCE) o valor recorde de 316,3 bilhões em março, contra 169,8 bilhões em fevereiro.

Com isso, aumentaram as apostas de que o BCE poderá retomar seu programa de compra de títulos soberanos na Europa, para ajudar a Espanha. As taxas dos papéis espanhóis voltaram a subir, demonstrando desconfiança dos investidores. No ano passado, a ação do BCE aliviou a crise, mas as compras foram suspensas nas últimas semanas.

Na contramão, ações de mineradoras sobem

Na Bovespa, o setor bancário foi destaque de baixa, com tombos nas ações do Santander (4,96%, a R$ 15,70), e nas preferenciais (PN, sem voto) do Itaú Unibanco PN (3,88%, a R$ 31,68). Já a Petrobras PN caiu 1,54%, a R$ 21,67.

As mineradoras, no entanto, fecharam o dia na contramão, pois a produção de aço chinesa subiu 10% em março, apesar da desaceleração geral da economia. Vale PNA subiu 0,12%, a R$ 42,85, e MMX Mineração ON (ordinária, com voto) foi a maior alta (4,29%, a R$ 9).

No câmbio, o BC fez dois leilões de compra, apesar da alta na moeda estrangeira.

(*) Com agências internacionais