Título: EUA: boas-vindas sob pressão
Autor: Marcarian, Enrique
Fonte: O Globo, 14/04/2012, Economia, p. 36

Morales e Santos cobram apoio de Washington já na chegada para a cúpula

Enrique Marcarian/Reuters

CARTAGENA, Colômbia. A chegada dos primeiros chefes de Estado para a sexta edição da Cúpula das Américas deixou clara a pressão para que os EUA apoiem a agenda da região. O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, iniciou os discursos com um pedido para que o governo de Barack Obama concentre atenções na América Latina.

- Se os EUA perceberem que seus interesses de longo prazo não estão no Afeganistão ou no Paquistão, mas na América Latina, eles terão ótimos resultados - afirmou, antes da chegada de Obama, a uma plateia composta de centenas de empresários da América do Norte e da América do Sul.

Diante do histórico de divisões ideológicas na região, Santos também fez um apelo para que os chefes de Estado coloquem o pragmatismo em primeiro lugar:

- Vamos respeitar nossas diferenças, mas vamos nos manter juntos. Quem poderia imaginar que Colômbia e Venezuela poderiam trabalhar em conjunto?

Ausência de Cuba e

política de drogas

As declarações mostram que ao contrário da última edição do evento, há três anos, quando Obama foi alvo de elogios, desta vez o presidente americano terá que se esforçar para deixar de lado a percepção de que a região foi relegada a segundo plano.

- Sinto que a agenda dos EUA e dos países da América Latina, ao invés de se moverem em paralelo ou convergirem, estão tomando caminhos diferentes que as distanciam - disse o presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, participou do Fórum Social junto com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e fez um apelo direto para que os EUA reafirmem que as ilhas Malvinas pertencem à Argentina. Entre os 33 líderes do hemisfério, há apoio quase unânime pela posição da Argentina, que perdeu a guerra contra o Reino Unido há 30 anos. Obama tem um encontro marcado com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, no qual o assunto deve ser discutido.

A posição dos EUA e do Canadá foi alvo de críticas feitas pelo chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro. Ele disse que os dois países mantêm atitudes retrógradas por não manifestarem apoio à Argentina e também porque são contrários à presença de Cuba no encontro.

- Não devem existir possessões coloniais em nossa América - disse Maduro.

Diversos países já afirmaram, inclusive o Brasil, que esta será a última cúpula sem a presença de Cuba. O presidente do Equador, Rafael Correa, decidiu boicotar o encontro em razão da ausência de autoridades de Havana. Além de Cuba não ser membro da OEA (Organização dos Estados Americanos), os EUA argumentam que o país não fez qualquer avanço rumo a um regime democrático.

Outro tema premente na discussão entre chefes de Estado é uma nova abordagem para o combate ao tráfico de drogas e para reduzir a violência na região. Países como Colômbia, Guatemala e México discutem a hipótese de legalização. Segundo um alto funcionário do governo brasileiro ouvido pelo GLOBO, o Brasil se aproxima da Colômbia, ao defender que o assunto seja discutido porque "da forma como é hoje não está funcionando":

- É claro que não pensamos em liberar os traficantes. Mas precisamos pensar, ver como as coisas se passaram em outros países desenvolvidos.

Enquanto o debate oficial entre líderes não começa, a agenda foi dominada pelo show de Shakira e por uma jogo de futebol com times liderados por Morales e Santos.

COLABOROU: Eliane Oliveira, enviada especial a Cartagena