Título: Na mira de CPI empresa troca presidente
Autor: Menezes, Maia
Fonte: O Globo, 26/04/2012, O País, p. 10

Minutos depois de anunciada a prisão em Goiânia do ex-diretor no Centro-Oeste Cláudio Abreu, a Delta divulgou um comunicado sobre o afastamento de Fernando Cavendish e Carlos Pacheco da presidência do Conselho Administrativo e da diretoria executiva. Cavendish detém 82% do controle da DTP Investimentos, holding que controla cinco empresas do grupo Delta. E Pacheco também é sócio da Delta. A decisão, segundo a nota, foi tomada pelo próprio Cavendish, "como demonstração de isenção com que se pretende que sejam conduzidos os procedimentos da auditoria". A empreiteira já anunciou uma auditoria no escritório que toca os negócios da Delta no Centro-Oeste e ontem informou que ampliou a medida para "os outros assentamentos da empresa". A Delta, alvo da investigação da CPI de Cachoeira, tem hoje 43 filiais, e 300 contratos em 23 estados e no Distrito Federal. Cláudio Abreu foi preso em um desdobramento da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que identificou elos entre a Delta e o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

A decisão tira Cavendish e Pacheco - também citado nas gravações da PF - do dia a dia da empresa. E tenta sinalizar ao mercado que, a partir de agora, os negócios serão conduzidos de forma profissional. A Delta tem 195 obras em andamento no país. Na última sexta-feira, o consórcio Rio Maracanã 2014, formado pela Andrade Gutierrez e pela Odebrechet, anunciou a saída da Delta do grupo. Ela deixara de fazer aportes à obra. A decisão sobre a saída de Cavendish e Pacheco foi tomada depois de uma longa discussão com advogados. O executivo Carlos Alberto Verdini, há nove anos na Delta e egresso da Queiroz Galvão, assume a presidência da construtora. E o engenheiro Edyano Bittencourt fica na diretoria executiva.

Em nota, a construtora tenta limitar as ações suspeitas a Cláudio Abreu. A empreiteira nega conhecimento da ligação do ex-diretor, afastado em março, com Carlinhos Cachoeira. No entanto, escutas telefônicas da Polícia Federal, captadas durante as investigações da Operação Monte Carlo, sugerem que Carlos Pacheco sabia dos negócios de Abreu. De acordo com a nota da Delta, o envolvimento de Cláudio Abreu era desconhecido pela administração da empresa e por seus acionistas. "As notícias que a vinculam a fraudes, oferta de favores para obtenção de obras ou má execução dessas obras devem ser creditadas, essencialmente, a um momento em que a credibilidade da empresa está sendo atacada com base em fatos lamentavelmente ocorridos em uma de suas diretorias regionais", diz a nota.