Título: Petrobras empreiteira está sendo avaliada
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: O Globo, 26/04/2012, O País, p. 13

RIO e BRASíLIA. A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou ontem que seria pequeno o impacto no ritmo de suas obras se a construtora Delta deixar os contratos que possui com a empresa e, se isso ocorrer, será justamente por conta de um já baixo ritmo de execução. A Delta, empresa envolvida no escândalo de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, mantém participação em consórcios que fazem pelo menos duas obras da Petrobras no Rio: o Complexo Petroquímico Rio de Janeiro (Comperj) e a Refinaria Duque de Caxias (Reduc). Segundo Graça, seria normal que empresas entrem e saiam dos consórcios que prestam serviços à Petrobras.

Empresa fechou contrato

sem licitação com a estatal

Em geral, disse, uma das empresas que faz parte do grupo assume a liderança do consórcio no lugar daquela que o deixa. Isso ocorre sistematicamente, afirmou.

- Estamos analisando o desempenho das obras da Delta, como já vínhamos fazendo há algum tempo. Então tem Delta e tem outras, pouquíssimas, que não têm bom desempenho e saem. É algo que a gente avalia o tempo inteiro e a tendência é que saia, porque se não tem melhoria da performance, tem que sair - disse Graça ontem, após audiência na Câmara dos Deputados.

A presidente da Petrobras destacou, porém, que a saída da empresa dos consórcios fornecedores não teria relação com investigações, mas com o ritmo das obras. O que mais incomoda a empresa, afirmou ela, seria o baixo desempenho dos empreendimentos.

- Empresas que não têm desempenho, a gente tira do contrato, independente se é empresa A, B, C, D ou E. Nós temos de cumprir nosso plano de investimentos, temos que gerar receita. E se tem uma empresa travando, a gente tira e outra assume.

A Delta tem atualmente pelo menos quatro contratos com a Petrobras, que somam quase R$ 1 bilhão. Os dois principais contratos referem-se ao projeto, construção e montagem de duas unidades do Comperj, um dos maiores empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da história da Petrobras. O Comperj está sendo construído em Itaboraí, na Região Metropolina do Rio .

O maior contrato foi assinado em dezembro de 2010 por R$ 531,8 milhões. Nesse contrato, a Delta atua via o Consórcio Itaboraí-URE, em sociedade com a TKK Engenharia e a consultoria Projectus. Segundo informações divulgadas pela Petrobras na época, essas unidades serão responsáveis por "ajustar as emissões de poluentes do complexo para os padrões exigidos por órgãos ambientais".

No outro contrato referente ao Comperj, assinado também no fim de 2010, a empresa de Fernando Cavendish liderou o consórcio que venceu uma disputa de R$ 311,5 milhões para elaboração do projeto, construção e montagem da Unidade de Hidrotratamento (HDT) de nafta do complexo petroquímico.

O contrato com a Reduc, assinado em meados de 2009, envolveu valores de R$ 129,5 milhões. Esse serviço foi acertado com "dispensa" de licitação, ou seja, sem qualquer tipo de concorrência pública, segundo consta no site de transparência da Petrobras.

Ontem, o advogado do Sindemon (Sindicato das Empresas de Engenharia de Montagem e Manutenção Industrial do Estado do RJ), Almir Ferreira Gomes, afirmou mais cedo que que o sindicato não tinha informações sobre a saída da Delta das obras do Comperj.

TCU avalia contratos da

Delta com a Petrobras

O Tribunal de Contas da União informou que foi estabelecido um planejamento para fiscalizar obras da Delta no Rio de Janeiro. Isso envolveria, além da construção do Comperj, as obras do Maracanã. No caso da Transcarioca, o foco estará sobre a regularidade do contrato de financiamento do BNDES, explicou Carlos Eduardo de Queiroz Pereira, secretário da 9 Secretaria de Controle Externo do TCU.

- Estamos fiscalizando os contratos. Já identificamos no passado indícios de irregularidades nas obras no Comperj, mas nada até agora relacionado ao que está sendo dito sobre a Delta - explica Pereira.

As obras no Comperj estão paradas há cerca de duas semanas por conta da greve dos trabalhadores das empreiteiras que executam os serviços. A Petrobras, por quento, mantém o prazo de início da operação da primeira unidade de refino em meados de 2014. A primeira refinaria vai produzir 165 mil barris diários de derivados, principalmente de óleo diesel.

COLABORARAM Ramona Ordoñez e Lucianne Carneiro