Título: Draghi e Merkel surpreendem ao defenderem crescimento na UE
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 26/04/2012, Economia, p. 27

BRUXELAS, BERLIM, PARIS, WASHINGTON e SÃO PAULO. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, defendeu ontem que a zona do euro retome o crescimento como solução para a crise da dívida do bloco. As palavras do titular do BCE receberam o apoio da chanceler alemã, Angela Merkel, e surpreenderam analistas, sugerindo uma guinada na estratégia econômica do bloco diante da crise. Draghi disse à Comissão de Assuntos Econômicos do Parlamento Europeu, em Bruxelas, que, após um "orçamento compacto", agora é o momento de um "crescimento compacto". Merkel foi mais clara e, em convenção de seu partido, afirmou que a "austeridade por si só não resolverá a crise". Por sua vez, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, apressou-se em garantir que Draghi não está recomendando aos países do bloco que elevem seus gastos.

O presidente do BCE também negou que esteja defendendo um afrouxamento da política fiscal, e reforçou que a ordem fiscal é essencial para que se retome o crescimento. As autoridades europeias estão forçando os países do bloco a apertarem os cintos, para cortar déficits orçamentários insustentáveis. O problema é que as medidas de austeridade têm aprofundado a tendência recessiva da economia, com efeitos nefastos no mercado de trabalho e no investimento das empresas.

- Precisamos avançar em nossa reflexão sobre uma visão a longo prazo para a Europa, como fizemos no passado e em outros momentos decisivos na história de nossa união - disse Draghi, reconhecendo que as reformas econômicas "mudam completamente a sociedade" e que "são uma fonte de dor".

Em Berlim, Merkel ecoou as palavras do presidente do BCE, afirmando que a Europa precisa de crescimento "na forma como Mario Draghi disse hoje, ou seja, na forma de reformas estruturais". Num comentário considerado incomum, o ministro da Economia da Alemanha, Philipp Roesler, sugeriu ontem que o BCE abandone as políticas implementadas para combater a crise e volte à sua função original de preservar a estabilidade monetária.

Segundo o jornal português "Expresso", o secretário de Finanças do governo de Merkel, Thomas Steffen, foi ainda mais eloquente: "Falar em disciplina orçamentária não significa que a Alemanha seja uma espécie de talibã da austeridade".

Já o candidato do Partido Socialista nas eleições presidenciais da França, François Hollande, elogiou as declarações de Draghi, mas voltou a repetir que, se for eleito, o país não vai ratificar o pacto fiscal da forma como ele está definido atualmente pelo BCE:

- O maior risco neste momento é que a economia europeia permaneça em recessão por falta de um fluxo de crédito às empresas - disse o candidato socialista ontem, em Paris.

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, afirmou ontem que a Europa ainda tem muito trabalho para resolver sua crise.

- É verdade que os europeus tiveram um progresso substancial em geral - disse ele em Washington. - Mas a julgar pelas condições do mercado, ainda há trabalho a ser feito.

Fed diz que manterá

juros estáveis até 2014

Ontem, o Fed voltou a anunciar que vai manter suas taxas de juros estáveis até o fim de 2014. De acordo com o banco central americano, a economia vem se expandindo de forma moderada e a taxa de desemprego, apesar de ter recuado, ainda está em patamar elevado. A autoridade monetária dos EUA, porém, não foi clara se voltará a oferecer novos estímulos este ano.

Os sinais da economia americana continuam oscilando. Ontem, o Departamento de Comércio anunciou que as encomendas de bens duráveis no país tiveram a maior queda em três anos em março, recuando 4,2%. Além disso, o resultado de fevereiro foi revisado para baixo, a 1,9%. A previsão era de queda de 1,7% em março.

(*) Com agências internacionais