Título: Argentina vota reestatização da YPF
Autor: Figueiredo, Janaina
Fonte: O Globo, 26/04/2012, Economia, p. 31

BUENOS AIRES e BRASÍLIA. Após um longo dia de debate, o governo da presidente Cristina Kirchner esperava aprovar ontem no Senado o projeto que prevê a expropriação de 51% da Repsol-YPF e que provavelmente será transformado em lei semana que vem, na Câmara. A Casa Rosada contou com o voto de sua bancada, majoritária, e de partidos da oposição. Senadores opositores disseram respaldar a iniciativa pela necessidade de recuperar um "recurso estratégico", mas acusaram o Executivo de ser responsável pela crise energética e pelo "esvaziamento da YPF".

- O governo negou a crise energética e é cúmplice da Repsol no processo de esvaziamento da empresa - afirmou o senador Gerardo Morales, da UCR.

Especialista: reservas da YPF caíram com a Repsol

Ele e outros congressistas mencionaram a drástica redução das reservas da empresa nos últimos anos. Esse é um dos questionamentos da Casa Rosada ao grupo espanhol, que esta semana publicou notas nos principais jornais da Argentina para defender sua posição e apresentar números que desmentem a versão kirchnerista. Segundo a Repsol, "é falso que a YPF tenha descoberto menos reservas de petróleo e gás" do que outras companhias. A empresa argumentou que "sete das nove principais operadoras, produtoras de petróleo, diminuíram suas reservas entre 1% e 31%" nos últimos quatro anos. No mesmo período, a Repsol diz que as reservas da YPF recuaram apenas 5%.

Os números em poder do governo e de especialistas energéticos mostram panorama diferente. Segundo o professor Roberto Kozulj, da Universidade de Rio Negro, em 1999, ano em que a Repsol assumiu o comando total da YPF, as reservas de gás da empresa eram de 394 milhões de metros cúbicos. Em 2011, esse volume caiu para 83 milhões de metros cúbicos. No mesmo período, segundo dados do especialista argentino, as reservas de petróleo recuaram de 230 milhões de barris para 93 milhões.

- Os espanhóis estão nos devolvendo uma empresa empobrecida e esvaziada - afirmou Kozulj ao GLOBO.

E apesar do apelo vizinho, a Petrobras não elevará investimentos na Argentina este ano, além dos US$ 500 milhões já previstos em seu plano de negócios, disse ontem a presidente da empresa, Maria das Graças Foster. Semana passada, o ministro argentino do Planejamento, Julio De Vido, veio ao Brasil pedir mais investimentos da estatal. Mas o clima não é propício já que, no início do mês, a província de Neuquén cancelou contratos de concessão da Petrobras. A empresa vai à Justiça para reaver direitos de exploração, e Graça previu discussões "calientes".

- Serão bastante calientes, aquecidas, as discussões com a Argentina, em relação àquilo que entendemos que não devemos perder - disse Graça na comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.

(*) Correspondente