Título: Gurgel vai pedir ao STJ inquérito para investigar Agnelo Queiroz
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 25/04/2012, O País, p. 4

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, vai pedir para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) abrir inquérito para investigar se o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), tem relações com as atividades ilícitas do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O governador foi mencionado no inquérito que hoje tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar a ligação entre Cachoeira e quatro parlamentares, entre os quais o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

O bicheiro foi denunciado pelo Ministério Público de Goiás acusado de chefiar quadrilha de jogo ilegal. Há nos autos 19 escutas que o ligam a políticos e outras pessoas. Investigações da Polícia Federal apontaram elo entre assessores de Agnelo e Cachoeira. O governador admitiu ter sido apresentado ao bicheiro, mas negou que sua administração mantivesse qualquer negócio com ele.

A decisão de Gurgel de pedir abertura de inquérito contra o governador petista Agnelo Queiroz, mas não contra o tucano Marconi Perillo, governador de Goiás, também citado em gravações da Polícia Federal na Operação Monte Carlo, promete abrir uma crise com o PT. Os parlamentares da legenda prometeram ontem reagir à decisão.

- Vai ter uma reação. Já havia uma dúvida sobre o motivo que levou ele (Gurgel) a sentar no processo de Demóstenes desde 2009 até hoje, mesmo sabendo das acusações que pesavam. Agora, quando ele pede a abertura de inquérito contra Agnelo e deixa o Marconi de fora, a impressão que fica é de que está havendo uma atuação seletiva. O clima já não era bom e agora vai piorar bastante. A CPI vai ter que apurar tudo, inclusive isso - reagiu um senador petista, que preferiu não se identificar.

Lewandowski desmembra inquérito no STF

O governo do Distrito Federal evitou entrar na polêmica e disse que o inquérito inocentará Agnelo.

- A possível abertura do inquérito de certa forma será boa. Porque uma investigação conduzida de forma isenta vai culminar na inocência do governador e na falsidade das acusações que foram feitas a ele. Fora isso, é estranho que se abra uma investigação formal por conta de disse me disse, já que os autos da investigação da Polícia Federal só mostram terceiros bravateando em torno do nome do governador - rebateu o porta-voz do governo, Ugo Braga.

Ontem, o ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso Demóstenes no STF, autorizou o desmembramento do inquérito. No principal, deixou apenas o senador goiano. Abriu outros três para investigar os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ). Sandes Júnior e Leréia também respondem a processo na Corregedoria da Câmara por quebra de decoro parlamentar.

Lewandowski enviou de volta a Roberto Gurgel cópias da investigação referentes a pessoas sem direito de foro no STF. É o caso de Agnelo. De acordo com a Constituição Federal, o foro para governador é o STJ. Caberá ao procurador pedir abertura de inquérito contra ele lá.

A Procuradoria Geral da República também deverá enviar para a Justiça Federal, em Goiás, pedido de abertura de inquérito contra Carlinhos Cachoeira, Cláudio Abreu, Enio Andrade Branco, Norberto Rech, Geovani Pereira da Silva e Gleyb Ferreira da Cruz. Todos estavam mencionadas no inquérito que hoje é voltado apenas a Demóstenes. As providências foram tomadas a pedido do próprio Gurgel.

O procurador também tinha pedido a inclusão do procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres, que é irmão de Demóstenes, mas Lewandowski negou.

Na semana passada, a corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) abriu uma reclamação disciplinar para apurar a suspeita que Benedito Torres atuou junto ao Ministério Público de Goiás em favor de interesses do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

O ministro também negou solicitação da Corregedoria do Ministério Público de Goiás para ter acesso aos autos do inquérito contra Demóstenes. A investigação tramita sob sigilo.