Título: Da sombra ao centro da negociação
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2009, Política, p. 2

Subchefe de Assuntos Federativos, Alexandre Padilha será efetivado como ministro de Relações Institucionais e terá a missão de aproximar Dilma de governadores e prefeitos

Padilha, duas cadeiras à direita de Lula durante reunião no Palácio do Planalto: papel principal em negociações a partir de agora

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitará a indicação do coordenador político do governo, José Múcio Monteiro, para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) a fim de reforçar a pré-candidatura presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Anunciado ontem como interino no comando da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, o subchefe de Assuntos Federativos da pasta, Alexandre Padilha, será efetivado no posto tão logo o Senado aprove a posse de Múcio como ministro do TCU. Considerado um dos ¿queridinhos¿ de Dilma, Padilha terá a missão de aproximar a ¿mãe do PAC¿ de governadores e prefeitos, importantes cabos eleitorais em 2010, e organizar a agenda de viagens e inaugurações da petista.

Ele já cumpria essas duas funções como subalterno de Múcio. Ao ser alçado à condição de ministro, ganhará estrutura, inclusive de pessoal, e musculatura política para acelerar as negociações. Auxiliares do presidente creditam na conta de Padilha, por exemplo, o sucesso do encontro nacional com prefeitos realizado em fevereiro. Na ocasião, 5,3 mil dos 5,6 mil governantes municipais, segundo o Palácio do Planalto, foram recebidos em Brasília por Lula e Dilma, que anunciaram uma série de bondades acertadas previamente por Padilha. Entre elas, a renegociação das dívidas dos municípios com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Diante da repercussão política do encontro, a oposição recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a suposta campanha antecipada de Dilma. Em vão.

Neste ano, Padilha também teve papel fundamental nas negociações sobre regularização fundiária na Amazônia e o programa Minha Casa, Minha Vida, um das apostas de Lula para eleger o sucessor. Ontem, estava sentado duas cadeiras à direita do presidente numa reunião com governadores da Região Norte para tratar de questões climáticas. Sempre afinado com a ministra da Casa Civil, Padilha é protagonista ainda de conversas sobre investimentos públicos. Sabe de cor e salteado onde há obras (1)e programas sociais do governo federal, além dos pedidos de parceria apresentados por governadores e prefeitos. Por isso, tem plenas condições de lançar mão do Orçamento da União a fim de azeitar a relação de Dilma com puxadores de votos espalhados pelo país.

Congresso

Por ter pouco trânsito no Congresso, Padilha não será responsável por manter sob controle a relação entre o Planalto e os parlamentares. Essa articulação ficará a cargo do chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, do comandante nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e de líderes governistas. O grupo já é escalado com frequência por Lula, sobretudo quando há nós a serem desatados no Senado, onde Múcio tem pouca influência política. ¿Homem das emendas¿ do Planalto, o subchefe de Assuntos Legislativos da Secretaria de Relações Institucionais, Marcos Lima, também auxiliará no dia a dia com os congressistas.

A ideia inicial dele era deixar o governo com Múcio. Diante da fragilidade de Padilha no Legislativo, Lima resolveu ficar no posto, pelo menos, até o início do ano que vem. Antes de escolher uma solução caseira, Lula cogitou substituir Múcio por um parlamentar graduado. Os líderes na Câmara do PT, Candido Vaccarezza (SP), e do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), não aceitaram a missão. Deputado licenciado, Múcio, do PTB, pediu ao presidente, no início deste ano, para ser indicado ao TCU. Alegou estar cansado da disputa político-partidária. Desapontado com os antigos colegas de plenário. E sem paciência e disposição dele para ouvir, dia após dia, palavrões de políticos insatisfeitos com a demora para o atendimento de demandas.

1 - Avaliação À frente da Subchefia de Assuntos Federativos, Alexandre Padilha organizou a elaboração de uma cartilha dedicada a apresentar aos prefeitos eleitos no ano passado todos os programas do governo federal, além de ensiná-los a obter os recursos do Orçamento da União. Com a iniciativa, o Palácio do Planalto tentou impedir a paralisação ou adiamento de investimentos capazes de manter em alta a avaliação positiva do governo. Esse manual pode ser consultado no site www.portalfederativo.gov.br

Personagem da notícia Médico e político

Flávia Foreque

O médico Alexandre Padilha, 38 anos, é membro do Partido dos Trabalhadores desde a adolescência. Formado em Medicina pela Unicamp, onde foi presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE), o subchefe de Assuntos Federativos coordenou a campanha de José Dirceu em 1994, quando o ex-ministro da Casa Civil concorreu ao cargo de governador de São Paulo. Assim, apesar do perfil técnico e de atuar nos bastidores, tem a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e bom relacionamento com a cúpula do PT paulista.

Padilha também atuou na campanha à reeleição do presidente, quando conseguiu uma boa interlocução entre prefeitos e o então candidato, apesar do mal-estar devido a um falso dossiê elaborado por petistas contra os tucanos. A 15 dias das eleições de 2006, a Polícia Federal apreendeu material que mostrava o então candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, na entrega de ambulâncias da máfia dos sanguessugas. Na época, o escândalo provocou o afastamento do assessor pessoal do presidente Lula, Freud Godoy.

O substituto de Múcio coordenou neste ano o Encontro dos Novos Prefeitos e Prefeitas ¿ e, assim, colaborou para destacar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, entre os milhares de participantes do encontro. Antes de assumir a subchefia de Assuntos Federativos, Padilha foi chefe do departamento de saúde indígena da Funasa.