Título: Pela 1 vez Dilma dá indícios de que pode mudar rendimento da poupança
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 25/04/2012, Economia, p. 24

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff deu indícios ontem, pela primeira vez, de que o governo pode alterar o cálculo para rendimento da caderneta de poupança para reduzir mais os juros no país. Segundo ela, o governo avaliará todas as possibilidades para que as taxas sejam compatíveis com o padrão internacional. Segundo fontes do governo, a decisão sobre quando isso vai ocorrer deve sair amanhã, quando será divulgada a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Se a ata indicar que os juros básicos da economia ficarão abaixo de 8,75% - menor patamar histórico, que vigorou entre julho de 2009 e abril de 2010 - ainda este ano, será preciso encontrar rapidamente alternativas para compatibilizar essa taxa com os rendimentos da caderneta, sem risco de uma corrida dos investidores para a poupança. A Selic está em 9% ao ano, mas a autoridade monetária já indicou que continuará caindo.

- Cada dia com sua agonia. Não adianta vocês anteciparem. Sem dúvida nenhuma, todas as questões vão ser avaliadas pelo governo, com muita calma e tranquilidade. Serão, algum dia, serão (avaliadas mudanças na poupança) - admitiu Dilma.

Como tem uma remuneração fixa - Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano -, a poupança está se tornando mais atrativa que outros investimentos, cujo retorno para o investidor varia de acordo com a Selic. Por isso, há temor no governo de uma fuga em massa de recursos dos fundos de renda fixa para a poupança, o que desequilibraria o mercado e dificultaria a rolagem da dívida pública.

Um dos problemas seria a dificuldade que os bancos teriam para cumprir a exigência de que 65% dos depósitos em poupança sejam aplicados em habitação. Ou seja, haveria dinheiro em excesso para esse tipo de empréstimo e faltaria para o restante. A saída dos recursos dos fundos poderia afetar a administração da dívida pública, pois essas aplicações são compostas, em boa parte, por títulos do governo.

Se a presidente bater o martelo sobre mudanças, o segundo passo será decidir que tipo de medida será adotada: uma mudança na remuneração da poupança (mais complexa e sensível politicamente) ou uma saída paliativa que desestimule a migração dos fundos de investimento.

No segundo caso, há várias saídas no cardápio. Desde mexidas nas taxas de administração dos fundos até mudanças na tributação desse tipo de investimento para que se torne mais atrativo. Outra possibilidade é mudar a exigibilidade da poupança, de modo que os bancos possam aplicar parte do dinheiro em títulos públicos.

- O cardápio é muito variado e já está pronto. Basta tomar a decisão de mexer - disse um técnico do governo.

Alterar a remuneração da poupança é visto como algo muito mais complicado, embora seja a melhor forma de resolver o problema. De qualquer maneira, já há uma minuta de medida provisória que muda a remuneração da poupança, fazendo com que ela varie segundo a flutuação da Taxa Selic, como antecipou o GLOBO. Segundo a proposta, o retorno de quem investir seu dinheiro na poupança seria variável, com teto de 0,6% ao mês. As mudanças valeriam apenas para novos depósitos. Segundo interlocutores, essa seria a forma mais simples de mexer na poupança, minimizando a polêmica.

Após encontro com o governador-geral do Canadá, David Johnston, Dilma repetiu as críticas às taxas de juros e spreads bancários e disse que as mudanças não serão feitas de "supetão", mas os resultados aparecerão progressivamente:

- Não vou me imiscuir na forma como se administra nada. Não acredito que seja uma questão que vamos realizar de supetão. Nós vamos realizar progressivamente. Não há razão para termos taxas de juros tão elevadas.

COLABOROU Catarina Alencastro