Título: Inflação de 0,43%, quase dobra em abril
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 25/04/2012, Economia, p. 27

A prévia da inflação oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), veio com mais força em abril. A taxa subiu para 0,43%, quase o dobro do que se viu em março (0,25%). Reajustes nos salários de empregados domésticos, nos preços dos cigarros e dos aluguéis puxaram o IPCA-15 para cima. No ano, a inflação subiu 1,87%, abaixo do resultado no mesmo período de 2011 (3,14%) e, nos últimos 12 meses, desacelerou para 5,25%.

O resultado de abril ficou acima das expectativas dos analistas - que, na mediana, chegaram a apostar em 0,37%. Para especialistas, a alta nos preços já provoca revisões em projeções do IPCA fechado do mês. Entretanto, os analistas ainda esperam que a inflação se aproxime da meta no fim do ano - uma perspectiva que contribui para justificar os recentes cortes na taxa de juros.

- Uma aceleração era esperada, mas o que se previa era uma aceleração menor. A curto prazo as boas notícias de inflação parece que terminaram. Contudo, há uma convergência para a meta. A velocidade dessa convergência é que diminuiu - disse André Perfeito, economista da Gradual Investimentos.

Empregada doméstica, o maior impacto na taxa

Dentro das despesas pessoais, o cigarro registrou alta média de 5,56%, em resposta ao aumento da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Empregada doméstica - maior impacto individual da taxa - também encareceu em média 1,87% em abril, ante 1,38% em março. Em habitação, a pressão inflacionária veio de aluguel residencial, que aumentou 0,82% em abril, após subir 0,45% em março. Também influenciaram os aumentos de condomínio, de 1,01%; mão de obra para pequenos reparos, de 1,31%; artigos de limpeza, de 0,95%; e água e esgoto, de 1,60%. Já o aumento nos medicamentos, que chegou a 0,48%, veio por causa do reajuste ocorrido a partir de 31 de março.

Os artigos de vestuário voltaram a subir, passando de 0,16% para 0,49%, assim como os alimentos, que foram de 0,22% para 0,31%. Ficaram mais caros itens como feijão carioca (6,74%) e pescados (3,73%). Em queda, o destaque foi a carne que, com deflação de 1,59%, representou o mais intenso impacto para baixo (-0,04 ponto percentual).

- A inflação apresentou reajustes sazonais, como o do setor vestuário, com as coleções. Mas é preciso observar a questão do câmbio que pode se tornar uma ameaça mais forte aos preços. Afinal, o dólar influencia para cima ou para baixo os preços. Se o câmbio passar de R$ 2, pode começar a ficar complicada a inflação a curto prazo. Sem falar que as expectativas de inflação vão se deteriorar - complementou Perfeito.

Para Luis Otavio Leal, economista do banco ABC, o resultado não é favorável. Ele qualifica, por exemplo, o comportamento dos serviços como "preocupante", já que, em 12 meses, passaram de 7,58% para 7,69%. "Isso é, sem dúvida, reflexo do aumento do salário mínimo e mostra que a demanda deve continuar pressionada, como demonstram os resultados do empregados domésticos (1,87%), manicure (1,29%), serviços médicos e dentários (1,30%) e consertos e manutenção (1,19%)", disse em relatório.

Diante do resultado, o banco revisou a projeção do IPCA de abril: passou de um intervalo entre 0,50% e 0,55% para algo entre 0,55% e 0,60%. A aceleração dos preços, segundo ele, virá dos alimentos, dos vestuários, e das despesas pessoais - que ainda virão fortemente pressionadas por cigarros. A Prosper Corretora também revisou sua expectativa para o IPCA, de 0,56% para 0,59%, em abril.