Título: Recursos repatriados devem diminuir
Autor: Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 15/04/2012, Economia, p. 32

SÃO PAULO. A tendência de queda dos juros deve estancar o fluxo de recursos repatriados pelas empresas brasileiras com negócios no exterior, que, em 2011, atingiu volume recorde. A fim de tirar proveito da diferença entre as taxas no Brasil (mais altas) e no exterior, as transnacionais verde-amarelas trouxeram de volta US$ 21,2 bilhões, maior valor da série histórica do Banco Central, iniciada em 1995. Esses recursos chegaram na forma de empréstimos intercompanhias e, como tal, não estavam sujeitos à tributação imposta ao ingresso de outros capitais estrangeiros.

Até o momento, o saldo de investimentos brasileiros diretos continua negativo, com mais recursos de transnacionais entrando do que saindo do país. Mas a intensidade desse fluxo já dá sinais de virada. No primeiro bimestre, entraram no país US$ 407 milhões, abaixo dos US$ 8,4 bilhões repatriados no mesmo período de 2011.

- A partir do segundo semestre, começaremos a ter inversão dos fluxos de investimento, que devem ficar positivos até o fim do ano - diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, que projeta saída líquida de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões no fechamento de 2012.

Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), com 51 transnacionais brasileiras em 2011, apenas 2,9% das companhias pretendiam reduzir investimentos no exterior entre 2011 e 2012. E 45,7% tinham a intenção de manter o mesmo nível de investimentos de 2010, enquanto 51,4% disseram que vão ampliar os aportes internacionais.

Em 2011, o fluxo de novos investimentos diretos estrangeiros avançou 16,5%, chegando a US$ 1,66 trilhão em todo o mundo, informou a Unctad. As transnacionais brasileiras fizeram o inverso: enquanto as saídas somaram US$ 11,9 bilhões, o retorno de capital chegou a US$ 21,2 bilhões, levando a saldo negativo de US$ 9,3 bilhões. Segundo a Unctad, o capital brasileiro no exterior retornou ao país para lucrar com os juros altos.

- As empresas fizeram um recuo tático e estratégico, por causa da incerteza externa e porque enxergaram mais oportunidades no crescimento da economia brasileira a longo prazo - afirmou Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet.

O cenário internacional afetou as fusões e aquisições de empresas estrangeiras por parte de brasileiras. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), essas operações caíram de R$ 47,4 bilhões, em 2010, para R$ 17,8 bilhões em 2011.