Título: Reuniões festivas com o bicheiro
Autor:
Fonte: O Globo, 05/04/2012, O País, p. 3

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o bicheiro Carlinhos Cachoeira tiveram pelo menos três encontros, dois deles intermediados pelo senador Demóstenes Torres (de Goiás, sem partido), como admitiu ontem o próprio governador. Os tentáculos da rede do contraventor chegaram ao gabinete de Perillo, onde uma assessora direta recebia de Cachoeira informações sobre operações da Polícia Federal. A chefe de gabinete do governador, Eliane Gonçalves Pinheiro, flagrada por escutas da Operação Monte Carlo da PF, que levou Cachoeira à cadeia, pediu ontem demissão do cargo.

Marconi Perillo admitiu conhecer o bicheiro e ter se encontrado com ele por três vezes em "reuniões festivas" - uma delas na casa de Demóstenes Torres -, mas negou ter amizade com o contraventor. O governador disse que confia na agora ex-chefe de gabinete, Eliane Gonçalves Pinheiro, mas aceitou ontem a demissão dela. O tucano afirmou não haver "qualquer relação do governo com atos ilícitos". As afirmações foram feitas ontem, em entrevista à TV Anhanguera, de Goiás.

- Os principais políticos de Goiás e empresários de Goiás certamente já tiveram algum tipo de conversa com ele (Carlinhos Cachoeira). A gente tem que entender que amizade é uma coisa muito profunda. Eu o recebi aqui (no gabinete) no ano passado formalmente, depois de um pedido de audiência do senador Demóstenes, para tratar da instalação de uma indústria química na cidade de Anápolis, procedimento que eu adoto com todos os empresários que me pedem audiência para tratar de geração de empregos - contou.

Segundo o governador, os contatos que teve com Cachoeira foram muito esparsos para que a relação seja considerada de amizade.

- Tivemos pouquíssimos encontros em ocasiões festivas, aniversários ou jantares, acho que três vezes. Eu não posso dizer que tenho uma amizade com uma pessoa com quem conversei pouquíssimas vezes. E nunca, em tempo algum, em hipótese alguma ele teria coragem de falar comigo sobre qualquer atitude relacionada à contravenção, sobre qualquer pedido de emprego ou de nomeação. Eu nunca dei liberdade para isso - alegou.

Embora sem admitir intimidades, Perillo contou que, em uma festa na casa de Demóstenes, teria conversado com Cachoeira, que lhe disse que estava fora do crime há muitos anos.

- Que coisa boa! - Perillo teria respondido.

Governador nega ser o "maior"

De acordo com reportagem do GLOBO, a chefe de gabinete do governador teria recebido informações sobre uma operação da Polícia Federal obtidas pelo grupo de Cachoeira. Uma das informações seria o cumprimento de mandado de busca na casa do prefeito de Águas Lindas (GO), Geraldo Messias (PP). Para Perillo, a servidora "tomou a decisão certa" ao deixar o cargo.

- Ontem (terça), ela confirmou ter recebido o telefonema sobre o caso do prefeito de Águas Lindas, mas (disse) que não repassou nenhuma informação e tomou a decisão correta de sair do governo - declarou o governador à emissora de TV.

Em uma das escutas, Cachoeira e Eliane se referem ao "maior". Cachoeira pergunta à chefe de gabinete se ela falou "pro maior", ao que ela responde: "Falei, estou com ele aqui. Tá aqui. Imagina como que tava". Perillo negou que seja ele o sujeito da referência em código. Também na entrevista, o governador disse que nunca soube da relação de sua funcionária com o bicheiro:

- Eu nunca fui informado da relação de Eliane com o Cachoeira. Sempre ela me disse que se tratava de outra Eliane, uma advogada.