Título: Espanha derruba bolsas no mundo
Autor: Geralda, Doca; Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 05/04/2012, Economia, p. 23

MADRI, LISBOA, RIO e BRASÍLIA. O custo de empréstimo da Espanha saltou em um leilão de títulos realizado ontem, provocando temores sobre um recrudescimento da crise da dívida da zona do euro e ofuscando uma medida de sucesso de Portugal. Bolsas de valores caíram em todo o mundo. Teme-se que o país tenha que imitar Grécia, Irlanda e Portugal e buscar um resgate.

A Espanha vendeu 2,6 bilhões em papéis de médio prazo, sendo que títulos com vencimento em 2020 registraram rendimento médio de 5,338%, contra 5,156% em setembro. Analistas esperavam 5,2%. No mercado secundário, os rendimentos dos títulos espanhóis avançaram. Os bônus de dez anos subiram cerca de 25 pontos básicos, a 5,7%.

Já Portugal vendeu 1 bilhão em notas do Tesouro de 18 meses, título de prazo mais longo desde que União Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI) resgataram o país. O rendimento é de 4,537%, contra 5,993% pouco antes do resgate.

O FMI anunciou ontem a liberação de 5,17 bilhões para Portugal, de acordo com o programa de ajuda ao país. O FMI citou recentes avanços nas reformas fiscais estruturais.

Mas a preocupação com a crise das dívidas na Europa voltou ao radar dos investidores e o risco de contágio da Espanha derrubou as bolsas. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), caiu 1,18%, a 63.528 pontos, menor nível desde 31 de janeiro. Nos Estados Unidos, houve quedas nos índices Dow Jones (0,95%), S&P 500 (1,02%) e Nasdaq (1,18%).

Na Europa, o receio com a Espanha levou a quedas maiores. A Bolsa de Madri recuou 2,09%. Também caíram Londres (2,3%), Paris (2,74%), Frankfurt (2,84%) e Milão (2,42%).

Para o estrategista-chefe do banco WestLB no Brasil, Luciano Rostagno, a desconfiança do mercado em relação à Espanha aumentou após o orçamento do país sinalizar déficit fiscal maior.

Fluxo cambial fica positivo em

US$ 5,7 bilhões em março

Os receios na Europa derrubaram as cotações de matérias-primas, afetando as empresas do setor na Bovespa. Petrobras PN (preferencial, sem voto) perdeu 3,5% (R$ 21,76), também com a confirmação do cancelamento de uma concessão de exploração na Argentina. Já Vale PNA caiu 1,82% (R$ 41,08). Após o anúncio do aumento de linhas de crédito pelo Banco do Brasil, as ações do setor bancário também puxaram a Bolsa para baixo.

Na contramão, o setor de construção se recuperou e impediu queda maior da Bolsa. Brookfield ON (ordinária, com voto) subiu 4,93%, a R$ 5,96, maior alta do Ibovespa.

No mercado de câmbio, com a volatilidade reduzida diante da cautela dos investidores em relação à atuação do governo, o dólar comercial subiu 0,05%, a R$ 1,828, em dia de alta no mundo.

Já o saldo das entradas e saídas de dólares do país ficou positivo em US$ 5,7 bilhões em março. Segundo dados divulgados ontem Banco Central, o fluxo cambial foi praticamente o mesmo do mês anterior. Mas houve uma mudança estrutural: o tsunami de recursos que entrava pelo mercado financeiro sumiu e houve saída líquida de recursos financeiros de US$ 291 milhões. Todo o saldo foi garantido pelos recursos que entraram por causa das exportações brasileiras. Até agora, 2012 acumula saldo de US$ 18,7 bilhões, quase metade do registrado em 2011. (Vinicius Neder e Gabriela Valente, com agências internacionais