Título: 'Que finalidade teria eu assinar?'
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 20/04/2012, O País, p. 4

BRASÍLIA. O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) está determinado a retomar sua rotina e a atividade parlamentar no Senado. Ele compareceu novamente no plenário na tarde de ontem, ainda causando surpresa e tumulto. O senador goiano até comentou o escândalo do qual faz parte, dando razão ao Congresso na criação da CPI do Cachoeira, que terá como um dos focos sua relação com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Demóstenes se irritou ao ser questionado se assinou a CPI, dizendo que não é chegado a "falso heroísmo" e que não assinou porque, disse, é uma pessoa "coerente".

A revelação das conversas telefônicas, gravadas com autorização da Justiça, entre Demóstenes e Cachoeira causou impacto justamente pela falta de coerência entre a imagem pública adotada pelo senador goiano, o de paladino da moralidade, e seus supostos negócios com um bicheiro. Além da CPI, Demóstenes enfrenta investigação preliminar do Conselho de Ética do Senado, que deve abrir processo contra ele por quebra de decoro. A pena máxima, se for considerado culpado, é a cassação do mandato.

- O Congresso tem razão para criar a CPI - afirmou Demóstenes, ao deixar o plenário, onde registrou presença e cumprimentou os senadores que estavam no local, mostrando-se à vontade.

Questionado se assinou o requerimento de criação da comissão parlamentar de inquérito, ele respondeu irritado:

- Não faço falso heroísmo. A vida toda fui coerente. Que finalidade teria eu assinar? - disse ele, arrematando que "obviamente" será convocado para depor na CPI.

Como a rotina adotada por ele vinha sendo a de se esconder, marcando presença no plenário pela manhã, quando não há sessão, as aparições de Demóstenes ainda causam surpresa no Senado. Mas, pelo visto, elas se tornarão frequentes a partir de agora.

- É minha Casa. Fui eleito para isso.

Essa foi a segunda vez, desde a divulgação das conversas telefônicas com Cachoeira, que o senador goiano compareceu no plenário durante a tarde, quando há movimento. A primeira vez foi anteontem. Antes, ele apareceu de surpresa e sorridente na reunião do Conselho de Ética, dia 12.

Demóstenes não tem dado pistas da linha de sua defesa prévia, que encaminhará ao Conselho de Ética até a próxima quarta-feira. Ele repete como um mantra que falará somente no conselho. (Fernanda Krakovics)