Título: Irã atribui abuso sexual a diferenças culturais
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 20/04/2012, O País, p. 15

BRASÍLIA. A Embaixada do Irã em Brasília classificou como "um mal-entendido", causado por diferenças culturais, o episódio em que o diplomata Hekmatolla Ghorbani teria abusado de meninas na piscina de um clube de Brasília, no último sábado. Em nota, a embaixada alegou que a imprensa brasileira está tentando criar polêmica em cima de "algumas inverdades", o que, para os diplomatas iranianos, é "um tratamento intencional por parte de alguns veículos de comunicação".

O governo brasileiro, no entanto, cobrou da embaixada do Irã explicações sobre as acusações contra o diplomata. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, informou que o Itamaraty enviou nota pedindo esclarecimentos à embaixada, lembrando que a Convenção de Viena determina que pessoas que têm imunidade diplomática devem respeitar as leis do país em que estão em missão. Patriota qualificou as acusações contra Ghorbani como "preocupantes":

- Eu, pessoalmente, consideraria inaceitável se algum diplomata brasileiro se comportasse dessa maneira em qualquer país.

Ghorbani é acusado de tocar nas partes íntimas de dez meninas com idades entre 9 e 15 anos, enquanto nadava. Segundo Patriota, esse comportamento seria considerado inadmissível mesmo se o autor fosse um brasileiro.

Patriota lembrou que o Itamaraty recebeu as famílias das menores que se sentiram vítimas de abuso. Ele explicou que, a partir da resposta dos iranianos, será possível tomar algum tipo de decisão a respeito. O diplomata Ghorbani poderá até ser expulso do Brasil.

A embaixada do Irã tentou explicar, na nota, a atitude do diplomata: "Uma das causas mais importantes é a falta de conhecimentos sobre as virtudes e as diferenças entre as culturas e o mal entendimento e as consequências decorrentes do que isso pode causar. Sendo nas demais sociedades estas virtudes e valores relativos, podem provocar dificuldades e uma séria incompreensão para as pessoas que estão vivendo num ambiente alienígena às suas características culturais", diz o texto.

José Roberto Fernandes Rodrigues, pai de uma das dez meninas que estavam na piscina, lamentou a alegação da embaixada de mal-entendido.

- Ele (o diplomata) falou que na cultura dele é normal. Isso não tem nada a ver - disse.

Os pais de três menores dizem que o mau comportamento de Ghorbani já havia acontecido na semana anterior. Algumas meninas só contaram aos pais após a acusação ter sido formalizada. Rodrigues e a mãe de uma das meninas afirmam que a mulher de Ghorbani foi à delegacia durante o registro da ocorrência e tentou convencer as mães a amenizar as denúncias.

De acordo com o Blog do Noblat, o diplomata já deixou o país. A embaixada afirma que Ghorbani não foi ao escritório esta semana, mas não confirma que ele já foi embora do Brasil.

Segundo a acusação, depois que o iraniano tocou em cerca de dez garotas, uma menina de 14 anos foi se queixar com o salva-vidas do clube, que ordenou o fechamento da piscina