Título: Bancos privados jogam a toalha
Autor: Sorima Neto, João
Fonte: O Globo, 19/04/2012, Economia, p. 27

Sob pressão da presidente Dilma Rousseff, o Itaú Unibanco e o Bradesco, os dois maiores bancos privados do país, anunciaram ontem redução de taxas de juros em diferentes modalidades de crédito para pessoas físicas e empresas. As duas instituições, que também divulgaram que vão elevar o volume de crédito disponível no mercado, seguiram o caminho iniciado por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (CEF), ambos bancos públicos, para aumentar a concorrência no setor e estimular o crescimento do país. HSBC e Santander também já haviam reduzido suas taxas. Analistas alertam, contudo, que os cortes mais vantajosos não serão oferecidos a todos os clientes.

- É difícil saber quanto da carteira de crédito dos bancos terá acesso às taxas mais baixas. O que se sabe é que nem todos os clientes serão beneficiados. Na ponta do lápis, os bancos nunca perdem dinheiro. Eles vão reduzir a receita num segmento, mas certamente vão ganhar em outro - diz o economista Pedro Galdi, da Corretora SLW.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a reação foi negativa. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) do Bradesco caíram 0,13%, enquanto as do Itaú Unibanco se desvalorizaram 0,60%. Os papéis do Banco do Brasil se desvalorizaram 7,6% desde o anúncio da redução de suas taxas, em 4 de abril.

O Bradesco informou que ampliou a oferta de crédito em cerca de R$ 14 bilhões neste ano, sendo R$ 9 bilhões para pessoas físicas e R$ 5 bilhões para empresas. O banco reduziu o juro em quatro modalidades: financiamento de veículos, crédito pessoal, crédito consignado ao aposentado e crédito para aquisição de bens. O juro mínimo dos cartões de crédito emitidos em parceria com grandes redes varejistas, por exemplo, passa a ser de 2,49% para compras até 24 meses. O Bradesco informou ainda que , para ter acesso às taxas, basta ser cliente do banco. Não é exigida nenhuma contrapartida, como receber o salário pela instituição. A taxa mínima do crédito pessoal caiu de 2,66%para 1,97% ao mês. Já nos financiamentos de veículos, o patamar inicial de juros é de 0,97%, contra 1,35% antes.

Taxas dependerão do perfil do cliente

O Itaú Unibanco divulgou que o volume de crédito disponível tanto para pessoa física quanto jurídica chega agora a R$ 200 bilhões. O banco também reduziu o juro para financiamento de veículos, que passará a ter taxa mínima de 0,99% ao mês. Mas, neste caso, o cliente deve ter conta há mais de um ano, dar 50% do bem de entrada e pagá-lo num prazo máximo de 24 meses. O banco reduziu a taxa do crédito consignado para aposentados do INSS (que vai variar entre 0,89% e 2,2%) e criou benefícios para quem recebe o salário necessariamente numa conta da instituição. Essa parcela de clientes terá redução no juro do cheque especial e no rotativo do cartão de crédito. Para empresas, houve redução na taxa mínima do cheque especial, capital de giro e desconto de duplicatas e cheques, além de antecipação de recebíveis de cartões. Nos dois bancos, os cortes valem a partir do dia 23.

O vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, avalia que tanto o Bradesco como Itaú fizeram reduções em linhas de crédito onde há bastante competição entre os bancos, como o crédito consignado para aposentados e financiamento de veículos.

- É uma estratégia para não perder clientes - diz Oliveira.

Ao vincular a queda de juro do cheque especial e do cartão ao recebimento do salário numa conta da instituição, o Itaú busca atrair novos clientes, afirma Oliveira. Além disso, comenta, as taxas mais vantajosas dependerão do relacionamento com o banco.

O Santander também anunciou ontem uma conta com juro do cheque especial mais baixo para quem recebe o salário pela instituição.

- Reduzimos o juro para pessoa jurídica e há 90 dias vínhamos treinando o pessoal das agências para oferecer o benefício. Hoje (ontem), anunciamos a conta com juro mais baixo para pessoas que receberem o salário pelo Santander. Queremos que as pessoas tenham opção - disse Pedro Coutinho, vice-presidente comercial do banco.

Tanto o Bradesco como Itaú negaram que tenham baixado juro após a pressão do governo, com reclamações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da própria presidente Dilma Roussef, que disseram publicamente que os bancos cobram juro muito alto e havia espaço para reduções.

"Anunciamos essas inovações graças a modelagem que nos permite precificar com bastante exatidão os riscos de crédito de cada cliente" disse em nota o presidente do Itaú, Roberto Setúbal, enquanto o Bradesco disse que sua decisão estava "em consonância com os objetivos de estímulo ao crescimento econômico".

Mas analistas que acompanham a discussão sobre a redução dos spreads (diferença entre a taxa de captação e a cobrada dos clientes) dizem que os bancos decidiram dar o primeiro passo após o mal-estar da semana passada. O presidente da Federação Nacional dos Bancos (Febraban), Murilo Portugal, foi a Brasília e pediu ao governo a redução de tributos e dos compulsórios embutidos no custo dos empréstimos, que respondem por 26% do spread.

- Pegou mal os bancos fazerem exigências sem levar nenhuma contrapartida - afirmou um analista.

De acordo com Luís Miguel Santacreu, analista de bancos da consultoria Austin Asis, só será possível saber como a redução do juro terá impacto nas margens dos bancos no segundo e terceiro trimestres, quando as instituições divulgarem seus balanços.