Título: BC reduz juro para 9% o mais baixo em 2 anos
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 19/04/2012, Economia, p. 29

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Banco Central (BC) confirmou as expectativas do mercado e cortou, pela sexta vez seguida, os juros básicos da economia em 0,75 ponto percentual, reduzindo a Selic para 9% ao ano, a mais baixa desde abril de 2010. A decisão unânime era esperada por praticamente todos os analistas do mercado financeiro e aplicadores. No entanto, os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) inovaram mais uma vez, pois, no comunicado divulgado após a reunião, não deram pistas claras de quais serão os próximos passos na condução da política de juros.

Depois de 28 meses, o Brasil deixou a liderança do ranking dos países que pagam os maiores juros reais do mundo, sendo superado pela Rússia. Com o novo corte de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, a Rússia assumiu a primeira posição, com uma taxa real (descontada a inflação) de 4,2% ao ano, enquanto o Brasil caiu para a segunda posição, com 3,4%. Elaborado pela Cruzeiro do Sul Corretora, o ranking mundial leva em conta os juros praticados em 40 países, classificados de acordo com as taxas nominais determinadas pelos bancos centrais e as projeções de inflação futura.

A mensagem divulgada no começo da noite de ontem diz apenas que "permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação" e que "dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária".

- O Banco Central deixou a porta aberta para mais cortes e surpreendeu ao dar ênfase ao cenário externo - disse o economista-chefe de um banco.

A mudança em relação às mensagens anteriores é comum no fim de ciclos de ajustes, segundo os economistas do Bradesco, e sinaliza que as novas decisões dependerão das próximas notícias sobre inflação e atividade. A única certeza é que a economia brasileira se acelerará daqui para frente. A dúvida é a velocidade da expansão e se isso pressionará a inflação.

- A história não termina em dezembro de 2012. As ações do Copom a partir de agora deverão ter um impacto mais visível na atividade e na inflação em 2013. É importante olharmos para o ano que vem também - diz Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco.

Desde a reunião do Copom em março, em que o BC sinalizou que interromperia a queda dos juros quando a Selic chegasse a 9% ao ano, muita coisa mudou. A inflação medida pelo IPCA está acumulada em 5,24% nos últimos 12 meses. A previsão do BC é que o índice encerre o ano em 4,4%, portanto, abaixo da meta de 4,5%. Nas contas dos analistas, a taxa de juros real já está abaixo de 4% ao ano.

Por causa dos índices mais moderados que o esperado, o coordenador de Política Econômica do Conselho Federal de Economia, Júlio Miragaya, aposta que o Copom ultrapassará o próprio piso que criou. Ele acha que a diretoria fará um novo mínimo histórico para os juros na reunião de maio: 8,75% ao ano.

- Entre a expectativa do mercado e a necessidade da sociedade, o BC deve ser mais sensível ao apelo de ter uma taxa mais próxima ao que está sendo praticado no mundo - disse.

Fiesp cobra que corte

chegue ao tomador final

Ele considera que esse patamar não influenciará na atração de investimentos para o país justamente por causa da inflação mais baixa, que faz com que o juro real fique na mesma sem diminuir a rentabilidade dos aplicadores.

Essa atratividade não se reflete, por outro lado, no fluxo de recursos financeiros que fechou no vermelho na semana passada. O resultado de todas as entradas e saídas de dólares ficou em US$ 403 milhões negativos. De acordo com o BC, o motivo foi a saída líquida de US$ 2,2 bilhões de aplicações no mercado financeiro. No mês, o resultado está negativo em US$ 799 milhões. As retiradas de aplicações somam US$ 2,4 bilhões.

Para o ex-ministro Delfim Netto, o BC deve dar uma pausa no processo de redução da Selic. Uma das razões, afirma, é a necessidade de se mudar as regras de rendimento da caderneta de poupança.

- Mesmo um fundo com uma taxa de administração de 1,5% ou 2% já ficaria com um rendimento mais baixo que o da poupança. A poupança é o principal empecilho para que a taxa de juro real caia abaixo de 6% ao ano - afirmou ele ontem, antes de participar de seminário do Sebrae.

Para a Fiesp, federação que reúne as indústrias paulistas, a redução precisa chegar aos tomadores finais. A CUT também considerou positivo o corte, mas avaliou que ainda existe espaço para uma maior redução.