Título: Rio+20 sociedade pede seriedade a governo
Autor: Scrivano, Roberta; Dantas, Edilson
Fonte: O Globo, 19/04/2012, Economia, p. 30

SÃO PAULO. A Rio+20 pode ser um fracasso, sobretudo para a área ambiental. É o que pensam duas dezenas de economistas, políticos, cientistas, ex-embaixadores e ex-ministros que enviaram ontem ao governo federal documento pedindo que a conferência "discuta com seriedade e profundidade a agenda de políticas e negociações na área climática e de transição para uma economia de baixo carbono".

A elaboração do documento "Rio mais ou menos 20?" foi encabeçada por Rubens Ricupero, ex-ministro e ex-secretário geral da Unctad, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU).

- Quero deixar claro que este documento não é oposição nem governo. É somente uma posição. O material é para colaborar com o debate da Rio+20 - disse o ex-ministro ontem na apresentação do documento a jornalistas na Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap).

A ex-senadora e ambientalista Marina Silva é uma das personalidades que assinou o documento. Para ela, ferrenha crítica a maneira como a conferência está sendo elaborada, o mundo vive um "sério risco de que a Rio+20 seja irrelevante e dê margens para retrocessos".

- Precisamos de uma avaliação honesta do que precisamos no meio ambiente. A conferência deveria fazer isso, mas não sei se fará - comentou Marina.

O receio da ex-senadora foi ecoado por todos os outros presentes na apresentação do documento. O professor da Universidade de São Paulo (USP) José Goldemberg, que também já esteve em mais de um governo entre a cúpula ambiental do país, classificou o atual modelo econômico brasileiro e mundial de "predatório".

A tentativa mundial de alterar o conceito de "desenvolvimento sustentável" para outro chamado de "economia verde" e que deve ser fortemente debatida na Rio+20, é o tópico que mais preocupa José Carlos Carvalho, ex-ministro do Meio Ambiente e ex-secretário do estado de Minas Gerais.

- Isso me preocupa porque nós mal conseguimos consolidar e executar um conceito e já surge outro - disse ele, completando que só há debates retóricos e conceituais e pouca efetividade nas ações pensadas ao meio ambiente. - Até agora, há reuniões de dez em dez anos para refazer compromisso e promessas.

Até a indústria, um dos segmentos mais poluentes, aderiu ao "Rio mais ou menos 20?". Rodrigo Loures, presidente do Conselho de Inovação da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que "este é o documento mais justo porque vai no cerne da questão". Outros nomes como Stela Goldenstein, secretária do Meio Ambiente de São Paulo, as economistas Elena Landau e Sandra Polónia Rios, o ex-ministro Sérgio Amaral, assinaram o documento.