Título: Câmara do país vizinho já discute reestatização
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 27/04/2012, Economia, p. 26

Senado aprovou projeto de lei na madrugada de ontem. Oposição critica governo, mas apoia decreto

BUENOS AIRES. Menos de 12 horas após o Senado ter aprovado o projeto de lei que prevê a expropriação de 51% da Repsol-YPF, os deputados argentinos começaram a debater ontem a iniciativa, que deverá ser votada na Câmara no próximo dia 3 de maio. Sob forte pressão da Casa Rosada, os congressistas da bancada kirchnerista, que controla ambas as casas do Congresso argentino, apressaram os parlamentares para conseguir transformar a proposta da presidente Cristina Kirchner em lei apenas três semanas após o anúncio presidencial.

Outros projetos, do governo e da oposição, passam meses engavetados antes de serem tratados no Parlamento. A medida que estabelece a nacionalização da companhia petrolífera, privatizada na década de 90 pelo governo do ex-presidente (1989-1999) e atual senador Carlos Menem, porém, recebeu um tratamento de luxo no Congresso. Neste caso, o governo Kirchner contou com o voto até mesmo de representantes de partidos opositores como a União Cívica Radical (UCR) e a Frente Ampla Progresista (FAP), que defenderam a recuperação da empresa, mas acusaram o Executivo de ser o responsável pela crise energética e o "esvaziamento" da YPF.

Uma das poucas vozes contrárias à nacionalização da companhia foi a da deputada e ex-candidata à Presidência Elisa Carrió.

- Não votaremos a favor porque não queremos acobertar um delito. Mas também não votaremos contra porque fomos os primeiros em denunciar a Repsol - disse Carrió, que nas eleições de 2011 obteve menos de 2% dos votos.

A deputada assegurou que, quando seus adversários lhe diziam que estava louca, "(os espanhóis) estavam roubando a YPF com a cumplicidade do governo".

- Isto aqui não é expropriação, nem nacionalização, é corrupção - enfatizou Carrió.

O Pro, partido fundado e liderado pelo chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri, confirmou seu voto negativo.

- Este projeto é ilegal. O governo deveria ter cancelado as operações da empresa e realizado novas licitações - argumentou o deputado Pablo Tonelli, do Pro.

Deputados criticam proteção a grupo Petersen

Outros deputados opositores anteciparam um voto favorável ao projeto do governo, mas questionaram a "proteção dada ao grupo Petersen, da família Eskenazi", que possui 25% das ações da YPF. O grupo argentino comprou sua participação acionária entre 2007 e 2011, com um claro respaldo do governo Kirchner. De fato, até agora o governo não explicou por que ordenou a intervenção da empresa e a expropriação das ações da Repsol e não inclui os 25% do grupo Petersen no projeto.

- Se a empresa fracassou, perdeu reservas e não investiu como era necessário, o grupo Petersen também é responsável - disse Tonelli.

A família Eskenazi tinha um ótimo relacionamento com o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e graças a esse vínculo conseguiu adquirir sua participação na YPF sem desembolsar um centavo. O acordo selado entre o grupo Petersen e a Repsol previa o pagamento da dívida com os dividendos da empresa.