Título: Desemprego no país sobe junto com salário
Autor: Spitz, Clarice
Fonte: O Globo, 27/04/2012, Economia, p. 28

Taxa passa de 5,7% para 6,2%. Rendimento chega a R$ 1.728,40, no maior valor dos últimos dez anos

A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas brasileiras subiu de 5,7%, em fevereiro, para 6,2% em março, mostrou a Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada ontem pelo IBGE. Apesar do aumento, é a menor taxa para março desde 2002, quando a série histórica foi iniciada. No mesmo mês do ano passado, fora de 6,5%. O mesmo relatório mostrou que o poder de compra cresceu 1,6% entre fevereiro e março. O rendimento médio real habitual ficou em R$ 1.728,40, o que representou alta de 5,6% na comparação com março de 2011, no maior valor também desde 2002. A massa de rendimento real alcançou R$ 39,4 bilhões, valor 2% superior ao total registrado em fevereiro, e cresceu 7% ante março de 2011

Segundo o IBGE, o aumento do desemprego se deve às dispensas típicas do início do ano de empregados temporários. Cimar Azeredo, coordenador da pesquisa, o rendimento e a massa salarial foram recordes, e isso também pode ser resultado da redução de trabalhadores temporários, porque eles ganham menos que a média:

- Mas há outros componentes que influenciam, como a inflação mais baixa e um efeito defasado do aumento do salário mínimo. Tudo isso garante um poder de compra maior.

No mês passado, mais trabalhadores procuraram emprego e a alta da ocupação - de apenas 0,2% frente a fevereiro - foi insuficiente para absorvê-los. De acordo com Adriana Berenguy, também do IBGE, boa parte dos dispensados é composta por temporários do comércio e, em paralelo, começa a haver uma retomada da busca por trabalho que foi interrompida em dezembro.

- A partir do mês de abril a expectativa é que ela (taxa de desemprego) pare de subir se o mercado de trabalho estiver aquecido, e que haja contratações para acabar com a fila de desempregados - disse Cimar Azeredo.

Segundo o economista João Saboia, do Instituto de Economia da UFRJ, março é praticamente o primeiro mês de trabalho no ano, com uma entrada grande de pessoas em busca de ocupação, mas apenas com uma parte dela conseguindo se ocupar:

- Acho que a taxa de desemprego ainda pode continuar a subir até o meio do ano, mas a expectativa é que esse movimento se inverta.

Inflação menor ajudou a recuperar os salários

A indústria foi o destaque entre as atividades pesquisadas, com incremento de 3% na ocupação entre fevereiro e março. No Rio, a expansão chegou a 11,7%.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, a tendência é que o desemprego continue caindo frente ao ano passado, acompanhando a tendência de crescimento moderado da economia. Ele projeta uma queda entre 0,2 ponto percentual a 0,4 ponto percentual em relação a 2011.

- O grande detalhe é o que houve um movimento bom com a queda dos juros, que reduz os custos dos empresários e tende a compensar a queda do desemprego, anulando os efeitos dele sobre a inflação. O mercado de trabalho não está sendo inflacionista - avalia, lembrando ainda do alívio fiscal com a desoneração da folha de pagamento anunciada pelo governo.

Segundo Velho, há um impacto direto da redução dos níveis de inflação no trimestre sobre o poder de compra dos trabalhadores. No primeiro trimestre, o IPCA acumula alta de 1,22%, metade do verificado no mesmo período do ano passado (2,44%).

- Só com o efeito da inflação menor, se mantivéssemos o rendimento nominal médio constante já haveria crescimento da renda - afirma.

(*) Com agências internacionais