Título: Delta: declarações 'em tom de bravata' estão fora do contexto
Autor: Vasconcellos, Fabio ; Marques, Sérgio
Fonte: O Globo, 17/04/2012, O País, p. 3

Empresa confirma autenticidade das gravações, mas alega que foram ilegais e feitas para fins de chantagem

A Delta Construções admitiu que o presidente de seu conselho, Fernando Cavendish, falou sobre pagamento de propina a políticos em conversa gravada em dezembro de 2009. De acordo com a empreiteira, as gravações foram feitas clandestinamente. Diante do detalhamento do diálogo, a empresa fez uma espécie de desagravo aos políticos, em nota, afirmando que "todos os seus acionistas controladores, diretores e executivos têm profundo respeito pelo Congresso Nacional, pelos congressistas, pelas instituições republicanas e pelo poder público".

O trecho divulgado, em que Cavendish fala sobre a suposta facilidade em se comprar um político, é, segundo a empreiteira, "parte editada de uma longa discussão em que os controladores das duas empresas, Delta e Sygma, discutiam os termos de uma dissociação" .

A empreiteira número um do PAC sustenta que a gravação foi feita por "um dos antigos proprietários da Sygma, que estão sendo processados pelos controladores da Delta". Eles afirmam que o trecho em que Cavendish fala de políticos foi pinçado "a fim de promover chantagens negociais contra a empresa". A Sygma Engenharia foi adquirida pela Delta em 2008. Durante o processo de fusão, no entanto, os sócios se desentenderam. A Delta informou que está processando a empresa.

A Delta diz ainda que o áudio não traduz o que a construtora e seus controladores pensam. Afirma que tudo o que é dito nas gravações "tem os verbos flexionados no condicional, como um exemplo hipotético, e foi pronunciado num tom claro de bravata". O próprio Cavendish, segundo a Delta, diz que o teor do áudio "não expressa a sua opinião" e foi dito "em meio a uma discussão entre ex-sócios que desde então se enfrentam na Justiça".

A Delta recebeu, em 2011, R$ 884,7 milhões da União. De 2003 até o ano passado, a empreiteira cresceu 1.417%, em valores corrigidos pelo ICPA. A investigação da PF mostra que o grupo de Cachoeira usou duas empresas de fachada, a Brava Construções e a Alberto & Pantoja, para receber dinheiro da Delta. O grupo de Cachoeira sacava valores das contas das empresas sempre inferiores a R$ 100 mil, valor utilizado como piso para a investigação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 17/04/2012 03:49