Título: Com resistência no PT e no PMDB, futuro da CPI do Cachoeira é incerto
Autor: Freitas, Ailton
Fonte: O Globo, 17/04/2012, O País, p. 5

Doença do presidente do Senado, José Sarney, é novo pretexto para demora

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff, apesar da preocupação com a repercussão no governo, não arcará com o ônus de impedir a criação da CPI Mista do Cachoeira, mas ainda é incerto o futuro da investigação. Setores mais moderados do PT - e, principalmente, o PMDB - protelam sua instalação, alegando que é preciso esperar a volta do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), hospitalizado em São Paulo.

Peemedebistas estão reticentes em assinar a CPI, principalmente por causa do suposto envolvimento de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, com o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Grande construtora do PAC, a Delta tem contratos milionários com o governo de Sergio Cabral (PMDB-RJ).

As bancadas do PMDB aguardavam orientação do líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), que voou a São Paulo para se aconselhar com Sarney . Do encontro, participou também o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

No final do dia, os parlamentares em Brasília davam sinais de que não há pressa para instalar a CPI. Ex-líder do governo, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) visitou ontem o ex-presidente Lula, e afirmou:

- O Lula acha que a CPI tem que avaliar os fatos, e não servir de instrumento de luta política. Tem que ter sobriedade .

Diante da impossibilidade de abortar a CPI, governistas se organizam para que a composição da comissão seja a mais alinhada com os interesses do Planalto e dos partidos envolvidos. Até agora, quatro governadores podem ser investigados: Sergio Cabral, Marconi Perillo (PSDB-GO), Siqueira Campos (TO) e Agnelo Queiroz (PT-DF).

No PT, as bancadas continuam divididas. Entre os deputados mais ligados ao presidente da legenda, Rui Falcão, a ordem é instalar logo a CPI. Mas, no Senado, alguns petistas continuam rejeitando a ideia.

- Essa CPI não tem paternidade. Todo mundo é contra, acha que vai dar problema, mas apoia a criação porque, senão, vai ser acusado de omissão. Eu sempre acho que CPI é a última instância (de apuração). Não tenho vocação de promotor - disse o senador Jorge Viana (PT-AC).

Já o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), é um dos mais entusiasmados com a CPI. Ele nega que haja recuo do partido:

- Tenho a convicção de que a CPI não atrapalha o governo, o PT, o país, o processo legislativo - disse.

Até agora, no Senado, foram coletadas 20 das 27 assinaturas necessárias para a instalação da CPI. Na Câmara, só há 40 das 171 necessárias.