Título: Sarney sobre mídia: fui mal interpretado
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lamego, Cláudia
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2009, O País, p. 9

Presidente da ABI critica declaração: imprensa ajudou a consolidar instituições

BRASÍLIA e RIO. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), mostrou-se irritado ontem com a repercussão negativa do discurso que fizera na véspera, em sessão de comemoração do Dia Internacional da Democracia, quando colocou os parlamentares como verdadeiros representantes do povo e declarou que a mídia se transformou em inimiga das instituições representativas. Em nota divulgada por sua assessoria ontem, Sarney afirma que foi mal interpretado ao afirmar que "atualmente existe um conflito sobre quem é o representante do povo: o parlamento ou a mídia".

Segundo a nota, "o discurso se restringiu a uma apresentação teórica sobre o antagonismo do imediatismo da mídia eletrônica ao prazo dos mandatos parlamentares". Diz que ele teria alertado sobre a falência do sistema político-eleitoral brasileiro e a necessidade de o Congresso fazer a reforma política:

"Não havia no discurso nada além de uma apresentação teórica, nenhum desejo de contextualização ou dirigismo, mas o pressuposto de que a mídia brasileira vinha acompanhando o vigoroso debate internacional". Na véspera, Sarney disse:

- A tecnologia levou os instrumentos de comunicação a tal nível que, hoje, a grande discussão que se trava é: quem representa o povo? Diz a mídia: somos nós; e dizemos nós, representantes do povo: somos nós. É por essa contradição que existe hoje, um contra o outro, que a mídia passou a ser uma inimiga das instituições representativas.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa classificou de erro histórico a declaração de Sarney sobre a mídia ser "inimiga das instituições". Segundo Maurício Azêdo, a imprensa trabalhou, ao longo dos anos, justamente para consolidar as instituições no país:

- A imprensa tem oferecido contribuição importante exatamente para criação e consolidação das instituições. Ele cometeu preconceito contra ele próprio, já que ele é detentor do registro número 1 de jornalista profissional no Maranhão.

Para Ricardo Ismael, professor de ciência política da PUC-RJ, criticar a imprensa virou uma forma de fugir do foco das denúncias. Ele disse concordar com o fato de a mídia não falar em nome do povo, mas ressaltou que ela não inventa fatos:

- No caso do Senado, há total convergência do que pensa a sociedade e o que se publica.

A mesma opinião tem o cientista político Marcus Figueiredo. Segundo ele, a mídia, a princípio, reporta os fatos. E eventualmente esboça opiniões sobre a qualidade e a natureza do Congresso, o que, diz, é legítimo.

- Dessas declarações do Sarney, a única que tem fundamento é que a mídia não é representante da opinião pública. Pode buscar essa representação