Título: Crise internacional dobra número de brasileiros que voltaram ao país
Autor: Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 28/04/2012, O País, p. 4

Quase dobrou também quantidade de estrangeiros em busca de emprego no Brasil

Filho de portugueses radicados no Rio, Carlos Lourenço de Lima atravessou o Atlântico fazendo o caminho inverso dos pais, em busca de trabalho.

Era o fim da década de 1990 e o então recém-formado analista de sistemas não encontrou dificuldade para conseguir emprego numa promissora rede varejista, em Lisboa.

Oito anos depois, a empresa fechou as portas e Carlos acabou desempregado.

Por quase um ano tentou em vão conseguir trabalho pela Europa, e a oportunidade de emprego apareceu em São Paulo, onde vive desde 2005.

Dados do Censo 2010, divulgados ontem pelo IBGE, revelam que o número de brasileiros que retornaram do exterior dobrou, saltando de 87 mil para 174 mil, na comparação com a década anterior.

O Censo Demográfico 2010 registrou as pessoas que moravam no país na data da pesquisa, mas que tinham residido em outro país até cinco anos antes. Em números absolutos, a quantidade de brasileiros que voltaram para casa dobrou no período 2005/2010 na comparação com 1995/2000.

Também chamados de imigrantes internacionais de retorno, esses brasileiros correspondem a 65,1% de todos os imigrantes internacionais. Em 2000, eles representavam 61% do total de imigrantes. O intenso movimento de retorno é explicado pela estabilização da economia brasileira, aumento do nível de emprego, melhoria na renda, além da emergência da classe C e a elevação do padrão de consumo das classes D e E.

Na última década, 41 mil brasileiros voltaram do Japão

Os pesquisadores ressaltam que, entre 2008 e 2010, esse movimento de retorno teve o estímulo extra da crise internacional.

Nesse cenário, também é possível constatar um aumento no número de estrangeiros que entraram no país em busca de trabalho. Em 2000, o número absoluto era de 143,6 mil contra 268,4 mil uma década depois. A maioria deles chega para morar em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, que ultrapassou o Rio, e aparece em terceiro lugar como estado que mais atrai estrangeiros.

A pesquisa do IBGE revela ainda outro aspecto interessante do novo movimento migratório.

A maior parte dos brasileiros retornou dos Estados Unidos e representa 84,2% dos 51.933 imigrantes daquele país.

No Censo de 2000, os EUA figuravam em terceiro lugar no ranking de países de origem dos imigrantes, ficando atrás, respectivamente, de Paraguai e Japão, que na pesquisa de 2010 passou a ocupara segunda colocação.

Na última década, 41.417 mil pessoas, 89,1% brasileiros, trocaram a terra do sol nascente pelo Brasil.

A maior surpresa, contudo, está relacionada a Portugal. O país nem sequer figurava entre os cinco países de origem dos imigrantes. No Censo 2010, ele fica em quarto lugar como ponto de partida de 21.376 pessoas para o Brasil. Desse total, 77% são brasileiros que arrumaram as malas e voltaram para casa.

O advogado brasileiro Leonardo Coutinho, de 42 anos, radicado há 11 anos em Penafiel, cidade nos arredores do Porto, afirma não se recordar de movimento migratório tão intenso anteriormente: — Nunca vi movimento de retorno igual a este. Não estou me referindo a brasileiros que viviam aqui na ilegalidade. Dos últimos que conheço e retornaram, todos residiam em Portugal há mais de sete anos e alguns tinham dupla nacionalidade.

Voltaram porque o mercado de trabalho não garante mais oportunidades.

Em compensação, quando se trata de países da América do Sul, a maioria dos imigrantes não são brasileiros. As pessoas que chegam destes países fronteiriços, entre eles Paraguai e Bolívia, estão em busca de oportunidade de trabalho e uma vida melhor.

O instituto também analisou a movimentação dos brasileiros entre os estados e constatou, mais uma vez, que os nordestinos estão voltando a seus estados de origem. Nesse aspecto, os cearenses foram os que mais regressaram para casa: 46,59% dos que chegaram ao estado são imigrantes retornados, ou seja, tinham vivido em outro estado e, na época do Censo 2010, já estavam de volta ao estado de origem. Em segundo lugar, ficou o Rio Grande do Sul.

Dos que chegaram ao NE em 2010, 40% estavam voltando

A lógica da pergunta do questionário é a mesma da imigração internacional. O entrevistador perguntou em que estado a pessoa vivia cinco anos antes de voltar à unidade da federação de origem.

Os estados da Região Nordeste, que em 2000 já apresentavam as maiores proporções de retornados, continuaram a tendência. Em 2010, 40% dos que chegavam para viver na região estavam voltando a seus estados de origem.

A migração de retorno aumentou no Brasil e respondeu por 20% do total das migrações.

São Paulo aumentou em quase 75% o volume de imigrantes que voltaram entre os dois períodos analisados. No caso do Rio, a proporção de retornados foi de 15,65% em 1995/2000 e 20,30% na comparação com o período de 2005/2010. n