Título: Para 45%, ensino fundamental ainda é distante
Autor: Ribeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 28/04/2012, O País, p. 11

Mais brasileiros estão se formando no ensino médio e superior, mas quase metade não concluiu o antigo 1, grau

RIO E TERESINA. A proporção de brasileiros que se formou em universidades dobrou de 4% para 8% em dez anos, mas o país segue tendo quase metade (45%) da população sem o fundamental completo. Este percentual, no entanto, era de 60% em 2000. O estado em pior situação em 2010 foi Alagoas, que tinha 60% da população de 15 anos ou mais sem o fundamental completo, seguido de Piauí (58%) e Paraíba (57%). Já o DF, o melhor, tinha 28%, seguido do Rio (36%).

— É inegável que o nível de instrução cresceu no Brasil. O problema são as desigualdades regionais e a questão de que, quanto mais se avança na idade, mais baixa fica a escolaridade.

Esse grupo de pessoas mais velhas e menos escolarizadas pesa bastante no percentual dentro da população — analisa Vandeli Guerra, pesquisadora do IBGE.

Para Wanda Engel, superintendente do Instituto Unibanco, os avanços ainda não são suficientes para as necessidades atuais do mercado de trabalho.

— O Brasil industrial do passado poderia se contentar com escolarização de nível fundamental.

Na sociedade de hoje, porém, o ensino médio é o equivalente ao fundamental de antigamente.

Só 35% terem o médio completo significa que o Brasil está deixando de fora do mercado de trabalho 65% da população, jogando para o limbo do subemprego, do mercado marginal.

Wanda lembra que, na Coreia, 100% da população completam o ensino médio.

— Quando se fala em apagão de mão de obra, não é que falta pessoal qualificado; falta pessoal escolarizado. As empresas estão loucas para qualificar, mas não tem gente com o conhecimento escolar básico para isso.

Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, também concorda que os avanços na educação foram insuficientes.

— O país avançou, mas a ritmo lento. A melhora é inegável, mas não é substantiva, principalmente se pensarmos que, com o processo de envelhecimento da população brasileira, a partir de 2030 teremos uma população predominantemente adulta, e será uma população adulta com escolaridade sem qualidade — avalia Daniel Cara.

Francisco Silva, de 29 anos, engrossa as estatísticas dos que avançaram de forma insuficiente na educação. Ele trabalha das 7h às 17h30m todos os dias sob o sol forte de Teresina, capital do Piauí, lavando carros nas margens do Rio Parnaíba para ganhar uma média de R$ 540 por mês. Acha que seu futuro poderia ser diferente se não tivesse abandonado o ensino médio no primeiro ano, quando sua mulher ficou grávida: — Eu sonhava ser soldado e continuar estudando para ter uma carreira militar. Hoje, já ficaria contente se fosse motorista.

Eu ainda tentei continuar estudando, mas chegava no colégio e tinha vontade de ficar dormindo.

Terminei desistindo. Afinal, tenho que sustentar minha família e a prioridade é o trabalho.

A gravidez também foi a causa do abandono do ensino médio no primeiro ano de Adriane Maria, de 25 anos. Ela conta ter se mantido na escola de ensino médio, na cidade de Altos (a 42 km de Teresina), até o oitavo mês da gravidez.

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