Título: Agenda de votações para minimizar CPI
Autor: Souza, André
Fonte: O Globo, 02/05/2012, O País, p. 3

Agenda de votações para minimizar CPI

Presidente quer desviar foco da crise e mostrar que governo não está paralisado

BRASÍLIA. Depois da derrota na votação do Código Florestal na Câmara e da instalação da CPI do Cachoeira, a presidente Dilma Rousseff reúne hoje o Conselho Político. Segundo interlocutores, Dilma evitará a crise da CPI e insistirá numa "agenda paralela" de votações e de medidas econômicas, para mostrar que o governo não está parado pelo clima político tenso criado pelas denúncias envolvendo o bicheiro Carlos Cachoeira.

O enfoque oficial do encontro, apesar da preocupação do Planalto com os rumos da CPI, será mesmo a situação econômica e as medidas que vêm sendo tomadas. Os líderes dos partidos foram avisados que haverá uma apresentação do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Dilma quer a continuidade da votação de medidas ligadas aos estados, como novas regras de ICMS sobre importados e vendas na internet. A queda dos juros será outro ponto e deverá levar a discussão de eventuais mudanças na caderneta de poupança. Parlamentares avisarão que alterações nas regras só para o futuro.

Será o primeiro encontro de Dilma com todos os aliados depois da troca dos líderes do governo na Câmara e no Senado. Politicamente, a presidente terá que reverter o mal-estar criado pela votação do Código Florestal, onde o PMDB liderou os ruralistas e aprovou um texto que desagrada o Planalto. A presidente deverá vetar todo ou parte do projeto aprovado e deixará clara sua postura. O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), disse que a tensão da semana passada, com o Código Florestal, é passado e não afetará o encontro.

Na reunião, Dilma ainda enfrentará as contrariedades do PDT pela forma como o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) foi escolhido para o Ministério do Trabalho. Setores do partido não apoiam a escolha.

Dilma acertou o discurso em relação à CPI em conversas com Lula na semana passada, mas a estratégia é dizer que o governo continua trabalhando com normalidade. Por causa do ano eleitoral, Dilma pedirá empenho para aprovar medidas até junho, em especial a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), sem a qual o Congresso não pode entrar em recesso. A estratégia do Planalto é agir nos bastidores para que o governo mantenha o controle sobre os rumos da CPI, feito por meio de pessoas de confiança, como relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG).

No campo econômico, Dilma agradecerá a aprovação pelo Senado da Resolução 72, que unifica em 4% a alíquota do ICMS cobrado nas operações interestaduais com produtos importados. A medida acaba com a guerra fiscal dos portos. No dia da votação, na terça-feira passada, Dilma ligou para o líder Eduardo Braga, para que articulasse a aprovação. (Cristiane Jungblut e Luiza Dame)