Título: Juro de contratos do mercado futuro cai com debate sobre poupança
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 03/05/2012, Economia, p. 22

Perspectiva de taxas mais baixas faz cotação do dólar atingir novo nível recorde

pressão oficial

BRASÍLIA e RIO. A perspectiva de juros mais baixos caso o governo mude a regra de remuneração da poupança, segundo a proposta que deve ser divulgada hoje, fez as taxas de juros projetadas nos contratos negociados no mercado futuro caírem ontem. Nos contratos com vencimento em janeiro de 2013, passaram de 8,29% para 8,15% anuais; e, para janeiro de 2014, foram de 8,76% para 8,54%. Essa expectativa contribuiu ainda para o dólar comercial seguir o cenário externo e subir 0,94%, a R$ 1,925, maior cotação desde 17 de julho de 2009. Já o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), avançou 0,98%, a 62.423 pontos.

Segundo Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos, a reunião de ontem da presidente Dilma Rousseff com o ministro da Fazendo, Guido Mantega, afetou o mercado, mas as taxas já vêm caindo há cerca de dois meses, quando começaram discussões sobre mudanças na poupança. O mercado estaria "comprando" a ideia de que basta mexer na poupança para a taxa básica de juros (Selic) cair mais.

- Mas a remuneração da poupança não é a única variável a dar um piso para a Selic - diz Freitas, citando a ameaça de inflação como outro problema.

Dia de correções após feriado do Dia do Trabalho

Na Bolsa, o dia foi de correção. Parte da alta responde ao otimismo de terça-feira, quando as ações subiram nos Estados Unidos com dados positivos na indústria, mas não houve pregão aqui por causa do feriado do Dia do Trabalho. O movimento foi puxado pelo setor de petróleo e gás e por empresas beneficiadas por juros menores.

As ações PN (preferenciais, sem voto) da Petrobras subiram 3,33%, a R$ 22. OGX Petróleo ON (ordinária, com voto) avançou 5,82% (R$ 14), maior alta do Ibovespa.

Para o estrategista do HSBC, Carlos Nunes, houve correção nessas ações, mas a Selic abaixo da mínima histórica de 8,75% beneficiaria a Bolsa como um todo. Setores mais sensíveis ao crédito saíram na frente ontem: as construtoras MRV ON e Gafisa ON subiram 5,05% (R$ 11,65) e 3,67% (R$ 3,67), respectivamente. Vale PNA subiu 0,84%, a R$ 41,80.

No câmbio, juros mais baixos inibem investidores que tomam recursos no exterior e aplicam a taxas mais altas no Brasil. Além disso, o cenário externo ruim e a atuação do Banco Central (BC) têm jogado a cotação para cima. Segundo dados divulgados ontem, o Brasil registrou entrada líquida de US$ 5,8 bilhões em abril (até o dia 27) e o BC comprou US$ 7,2 bilhões no mercado.

Ontem, o dólar se valorizou perante a maioria das moedas e contribuiu para a alta, em dia de mais pessimismo nos mercados, após os dados de emprego ruins. Na avaliação do gerente de câmbio da corretora Icap Brasil, Ítalo Abucater dos Santos, a cotação pode chegar a R$ 2.

Em Nova York, caíram os índices Dow Jones (0,08%) e S&P 500 (0,25%). Na Europa, recuaram as bolsas de Londres (0,93%) e Frankfurt (0,75%), mas Paris avançou 0,42%.

COLABOROU Gabriela Valente