Título: Ato em SP pede punição a crimes da ditadura
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Fonte: O Globo, 04/05/2012, O País, p. 13

Ex-delegado do Dops deve ser ouvido pela Comissão da Verdade

SÃO PAULO E BRASÍLIA. Dezenas de pessoas participaram ontem de um ato pedindo punição para os crimes da ditadura brasileira, na Rua Tutoia, bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo. Eles fizeram o "Ato pela Memória, Verdade e Justiça", em frente ao antigo Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão durante a ditadura militar. Hoje, no endereço, funciona o 36º Distrito Policial.

Os manifestantes carregavam cartazes com fotos de presos e desaparecidos políticos e faixas com os dizeres "Brasil, mostra sua cara". Os participantes pediam o início dos trabalhos da Comissão da Verdade e muitos demonstraram estar chocados com as declarações de Cláudio Antônio Guerra, ex-delegado do Dops, que relata no livro "Memórias de uma guerra suja" que pelo menos dez corpos de militantes teriam sido incinerados numa usina de açúcar, em Campos.

Ontem, a deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) anunciou que Cláudio Guerra deverá ser ouvido pela Comissão Parlamentar da Verdade, ligada à Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A deputada apresentará semana que vem requerimento para que o ex-delegado do Dops confirme aos parlamentares o depoimento que consta no livro.

- Deixo minha solidariedade às famílias dos companheiros que ousaram lutar nos anos sombrios da ditadura. E meu apelo para que a presidenta Dilma proceda à instalação da Comissão da Verdade - disse Janete.

A irmã de Fernando Augusto Oliveira, que teria sido incinerado na usina , Rosalina Santa Cruz, disse que a família não descarta a possibilidade de as informações dadas por Guerra serem verdadeiras, mas lembra que a família já recebeu várias notícias sobre o paradeiro dos restos mortais de Fernando, e até hoje não se sabe o que aconteceu:

- A gente está cansada de informações que não são apuradas e não são levadas a sério.

A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) afirmou que, caso verdadeiras, as declarações de Guerra expõem métodos comparáveis ao nazismo. Rosário foi cautelosa ao comentar as declarações do ex-agente:

- São graves e trazem a público métodos comparáveis ao nazismo. Mas todas as declarações e outras podem e devem ser trabalhadas no âmbito da Comissão da Verdade - disse Rosário.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o mesmo que defende o senador Demóstenes Torres no caso Cachoeira, disse ontem que acompanhou Guerra numa visita à usina de Cambahyba, em Campos, em 21 do mês passado, com a Polícia Federal, onde Guerra, segundo ele, já prestou depoimento.