Título: Indústria recua, e analistas já reveem PIB
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 04/05/2012, Economia, p. 31

Produção industrial tem queda de 0,5% em março, devido a concorrência de importados, câmbio e consumo menor

A produção industrial brasileira voltou a encolher. Após subir 1,3% em fevereiro, a atividade recuou 0,5% em março em relação ao mês anterior. As razões do novo tombo se repetem: forte concorrência de importados, câmbio desfavorável para o setor, demanda externa fraca e consumo interno mais tímido. No ano, o desempenho ficou 3,0% menor e, em 12 meses, o recuo foi de 1,1%. Um comportamento que leva analistas - mais uma vez surpreendidos por um indicador da economia - a já revisar projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre.

- Há uma permanência de um quadro de retração que já vinha sendo observado - comentou André Macedo, economista do IBGE.

A queda na produção não está em apenas um ou dois setores: aparece em 18 dos 27 ramos pesquisados pelos IBGE. As maiores perdas estão em ramos como edição e impressão (-7,1%), refino de petróleo e produção de álcool (-3,6%) e outros produtos químicos (-2,3%).

Com um câmbio que ainda favorece as importações, a indústria vem sentindo - e muito - a concorrência de produtos vindos de outros países, especialmente da China. Ao perder mercado, muitos setores ficaram com seus estoques elevados, disse Macedo. E a produção mais fraca levou a indústria a trabalhar num patamar 4% abaixo do que se observou em março de 2011 - momento em que a produção atinge seu ápice.

- Em fevereiro, esse patamar estava 3,4% abaixo do que se via em março. Ou seja: houve uma piora. Juros menores e medidas macroeconômicas ainda não tiveram força para frear as taxas negativas. E, em qualquer corte, há uma predominância dessas taxas negativas - completou Macedo, citando ainda que a produção permanece em uma trajetória descendente iniciada em outubro de 2010.

Desempenho derruba

previsões de alta do PIB

Macedo se refere ainda à taxa de março de 2012 comparada à de março de 2011, de -2,1% - sétima queda consecutiva nesse modelo de comparação. Das 27 atividades pesquisadas pelo IBGE, 16 produziram menos. Caso do setor de veículos automotores, que apresentou queda de 7,5% na produção e, assim, exerceu a maior influência negativa na formação da média da indústria. Também tiveram taxas negativas fábricas de material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-18,4%), metalurgia básica (-6,5%) e produtos de metal (-9,8%).

Ao voltar a decepcionar em março, a indústria começa a mexer com as projeções para o PIB. Thovan Tucakov, economista da LCA Consultores, revisou a sua estimativa do PIB de 0,6% para 0,5% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre. Mas ainda deixou intacta a expectativa do PIB fechado para 2012 (3,0%). A Gradual Investimentos também se prepara para rever suas projeções da economia nos três primeiros meses do ano.

- A produção veio muito ruim e bem abaixo da mediana do mercado. Qualquer movimento de recuperação ficou mesmo para o segundo semestre, que pode vir a compensar algumas perdas do primeiro semestre. E o governo também trabalha com isso - afirmou André Perfeito, economista da Gradual Investimentos.

Segundo Tucakov, a demanda interna deve continuar a ser o motor do PIB. Mas de um PIB mais fraco. Ele lembra que a produção industrial também aponta para uma retração do mercado interno. Em sua avaliação, as famílias estão muito endividadas e o ciclo de compras de bens duráveis (geladeira, carro etc) já passou. Ele cita os licenciamentos de automóveis e comerciais leves apurados pela Fenabrave que registraram queda de 3,5% até abril, frente ao quadrimestre final de 2011. Retração que, para ele, deve manter elevados os estoques das concessionárias e montadoras.

- A produção industrial deve crescer 2% nesse ano, abaixo da média dos últimos cinco anos, excluindo 2009, de 4,5%. Além da demanda interna mais baixa, a demanda externa segue fraca, sem perspectiva de melhora substancial nos próximos meses - disse Tucakov, frisando que o esfriamento da economia chinesa (maior comprador de manufaturados brasileiros), a recuperação inconsistente dos EUA e as crises na Argentina e na Europa devem limitar o ritmo de recuperação da indústria brasileira.

O setor industrial, apesar dos esforços do governo, já vinha dando sinais de que ainda patina. O Índice de Gerentes de Compras de Produção Industrial (PMI, na sigla em inglês) do instituto Markit divulgado na semana passada recuou para 49,3 em abril, ante 51,1 em março. Recentemente, o governo lançou pacote de estímulo à indústria que englobou desde a desoneração da folha de pagamentos de alguns setores até novos aportes oficiais ao BNDES, de R$ 45 bilhões. O objetivo é garantir um crescimento da economia brasileira na casa de 4% neste ano.