Título: BB e Caixa ameaçam oligopólio bancário
Autor:
Fonte: O Globo, 05/05/2012, Economia, p. 28

SÃO PAULO. Os cortes nos juros realizados pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal, por determinação do governo, devem romper com uma situação de oligopólio no setor bancário, em que as cinco maiores instituições detêm quase 70% das operações de crédito. A avaliação é do economista Willian Eid Júnior, coordenador do Centro de Estados de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). Os oligopólios, pequenos grupos de empresas que dominam segmentos de mercado, impondo suas condições e barrando a concorrência, precisam ser "coesos", observa Eid Jr, o que não acontece com os bancos brasileiros neste momento.

- A teoria dos oligopólios não se aplica quando um dos integrantes rompe com a ordem do grupo - diz Eid Jr., sobre o movimento iniciado por BB e Caixa. - Não tenho dúvida de que as ações dos bancos públicos vão ter efeito sobre os privados. Tanto que alguns já cortaram taxas.

Alberto Borges Matias, professor da Escola de Administração de Empresas da USP de Ribeirão Preto, destaca que o oligopólio no setor não é uma característica exclusiva do Brasil, mas uma marca mundial.

- E há concorrência forte entre as grandes instituições no Brasil. As taxas são altas pois o sistema bancário tem custos altos, decorrentes da falta de escala nas operações de crédito.

Enquanto no Brasil o total de financiamentos bancários representa menos de 50% do PIB, na maioria dos países, desenvolvidos e emergentes, a taxa média é de 150%. Por isso, diz, mesmo com as maiores taxas do mundo, os bancos brasileiros historicamente não têm a mesma rentabilidade de seus pares no exterior.

Matias ressalta que os bancos brasileiros ainda dependem dos ganhos com tesouraria, estratégia que tende a perder eficácia com a Selic menor.

- Esse não é um modelo sustentável, não se pode imaginar que governo, empresas e consumidores concordem em pagar juros tão altos por mais tempo.