Título: Trabalhadores idosos passam a ser cobiçados
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 19/09/2009, Economia, p. 22

Pesquisa Pnad revela crescimento de 12,9%, em 2007, para 13,4%, em 2008, no número de contratações de pessoas com 50 a 59 anos

Quando a gente faz o que gosta, pode continuar trabalhando para melhorar o padrão de vida e alcançar a auto realização¿ Milton Santos, 61 anos, gerente de benefícios

As empresas estão ávidas por trabalhadores qualificados e experientes. E esta demanda está refletida na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2008, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostram que, na população ocupada, houve crescimento na participação dos grupos etários de 50 a 59 anos (de 12,9% em 2007 para 13,4% em 2008) e de 60 anos ou mais (de 6,6% para 6,9%). Foram 1,3 milhão de novos trabalhadores com 50 anos ou mais. O estudo também aponta que o contingente de pessoas ocupadas com 11 anos ou mais de estudo ¿ o que corresponde ao Ensino Médio completo ¿ registrou o maior crescimento no total da população ocupada. Em 2007, este grupo era de 39% e passou para 41,2% no ano passado, totalizando 38,1 milhões de pessoas.

Experiência e qualificação é o que tem Milton Santos, 61 anos. Depois de trabalhar por 36 anos, 23 deles no mesmo banco, o gerente de benefícios chegou a se aposentar, mas permaneceu trabalhando por dois anos. Aí, resolveu aproveitar de fato a aposentadoria. Por três anos, viajou e deu mais atenção à família. As ofertas de trabalho foram inúmeras, mas a que considerou irrecusável foi a do banco em que atuou por mais de duas décadas. ¿Voltou a paixão pelo trabalho e pela empresa. Além de ganhar um extra, eu me sinto mais útil, mais integrado e valorizado, profissional e pessoalmente¿, disse.

A concessão de benefícios não é somente a paixão de Santos, mas uma das várias áreas que sofrem com a oferta de vagas maior do que a quantidade de profissionais disponíveis no mercado. Na falta de pessoas qualificadas e experientes, as empresas chamam de volta aposentados como o Santos, que estão cansados do descanso. ¿Grande parte dos trabalhadores sente uma grande euforia ao se aposentar, mas depois entram em depressão, pois não sabem o que fazer¿, avalia ele. ¿Mas quando a gente faz o que gosta, pode continuar trabalhando para melhorar o padrão de vida e alcançar a auto realização.¿

Jovens

Enquanto cresce a demanda por trabalhadores mais experientes, cai a inserção dos jovens no mercado de trabalho. A Pnad revela que em 2007, a participação de pessoas de 20 a 24 anos na população ocupada era de 12,2%. Um ano depois, este percentual havia caído para 11,9%. ¿O mercado está exigindo não apenas escolaridade, mas qualificação técnica e experiência¿, constatou a economista do IBGE e analista da Pnad Adriana Beringuy. ¿E este é um fenômeno que está ocorrendo não apenas no Brasil, mas principalmente na Europa¿, acrescentou.

Não à aposentadoria Farias, conferente de produtos: a maior satisfação é trabalhar

Valter Farias nem pensava em deixar o emprego no posto de gasolina. Mas o medo das mudanças no plano Collor fez o maranhense pedir a aposentadoria aos 52 anos. ¿Se na época em que eu me aposentei eu tivesse a visão que tenho hoje, não tinha me aposentado. A aposentadoria vicia a pessoa¿, disse. A vontade de voltar a trabalhar encontrou um obstáculo: a idade. Até que uma grande rede de supermercados abriu uma vaga para vigia e Valter retornou ao trabalho aos 57 anos. Hoje, Valter tem 69 anos e foi promovido a conferente de produtos. ¿A maior satisfação que eu tenho na minha vida é levantar cedo, pedir a Deus por um bom dia e ir para o trabalho¿, contou.

Valter é uma das 92,4 milhões de pessoas ocupadas em 2008, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Deste contingente, 58,6% eram empregados; 7,2% eram trabalhadores domésticos; 20,2% eram trabalhadores por conta própria; 4,5%, empregadores; 5%, trabalhadores não remunerados; 4,5%, trabalhadores na produção para o próprio consumo e 0,1%, trabalhadores na construção para o próprio uso.

Somente no ano passado, foram 2,5 milhões de novas pessoas ingressando no mercado de trabalho. Isso provocou um aumento no número de contribuintes do sistema de previdência. Em 2008, a elevação foi de 5,9%, impulsionado, segundo o IBGE, pelo acréscimo do número de empregos com carteira de trabalho assinada, que passou de 33,1% para 34,5% da população ocupada. (LV)