Título: Divergências levam a adiamento da rodada de negociações da Rio+20
Autor: Godoy, Fernanda; Milhorance, Flávia
Fonte: O Globo, 05/05/2012, Economia, p. 33

NOVA YORK e RIO. A 40 dias da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), os negociadores do rascunho zero, documento que será apresentado durante a cúpula, não chegaram a um consenso. Por isso, a última rodada de negociações, que seria encerrada ontem, em Nova York, foi adiada e será retomada no dia 29.

O secretário-geral da Rio+20, o chinês Sha Zukang, defende o enxugamento do texto e a redução de 26 para sete do número de áreas para as quais serão definidos objetivos de desenvolvimento sustentável. O rascunho zero começou com 19 páginas, chegou a 278, e agora tem cerca de 150. A meta é reduzi-lo a 50 ou 60 páginas.

Ontem, organizações sociais que participam da rodada de negociações criticaram a falta de medidas concretas no documento. Marcelo Furtado, diretor do Greenpeace no Brasil, acredita na extensão das negociações por mais uma semana, já que o texto está "muito grande e pouco inteligente".

- O problema é o que texto está ficando cada vez menos ambicioso, cada vez mais distante do que eram as intenções originais. É um texto que fala sobre muitas coisas, explica as posições de diversos grupos de interesse, mas não resolve nada - disse Furtado.

Os representantes das organizações citaram pontos que constam do "rascunho zero", e que mereceriam mais atenção dos governos. Entre eles, está o estímulo e facilitação, pelos governos, do acesso à informação ambiental, uma proposta que já tinha sido acertada na Rio 92, mas cujo projeto não saiu do papel. Além disso, eles criticaram a falta de acordos com relação às políticas sustentáveis voltadas para o desenvolvimento da agricultura. As ações para a transmissão de tecnologia com vistas ao desenvolvimento sustentável também não avançaram.

- É muito triste que estas propostas estejam num processo tão lento de negociação, e que algumas sequer tenham sido discutidas. Estamos muito frustrados com esta falta de energia dos governos nas últimas duas semanas. Queremos que medidas concretas sejam tomadas - afirmou Neth Dano, da Action Group on Erosion, Technology and Concentration (ETC Group).

Nikhil Chandavarkar, porta-voz da Divisão de Desenvolvimento Sustentável da ONU, disse que o secretariado continua mantendo o otimismo, apesar dos impasses e do fato de que a maior parte dos parágrafos do texto esteja hoje entre colchetes, o que no código da ONU indica que não há consenso para adotá-lo.

- Tudo está entre colchetes porque estamos no terreno das negociações. Vamos chegar a um bom documento. Os compromissos voluntários de cada país não farão parte do acordo, eles serão as contribuições que cada um trará - disse Chandavarkar.

(*) Correspondente