Título: Emoção na linha de chegada
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 05/05/2012, O Mundo, p. 35

A França vai às urnas

Na véspera das eleições presidenciais francesas, a batalha pelo comando da quinta maior economia mundial se volta agora para um grupo determinante: os 15% de eleitores indecisos. Todos os caminhos sugerem uma vitória do socialista François Hollande contra o atual presidente Nicolas Sarkozy, da UMP. Mas com a última sondagem indicando uma diferença de apenas quatro pontos percentuais entre os dois - a menor desde o início da corrida -, alguns observadores, como Marco Incerti, do Centro de Estudos de Política Europeia, em Bruxelas, não descartam uma surpresa impulsionada pelos que ainda não definiram o voto.

- Não se deve assumir que a vitória de Hollande é certa. Eu acho que ele vai ganhar, mas a diferença entre os dois diminuiu. Surpresas não podem ser descartadas - alerta.

Incerti não exclui também a possibilidade de que Hollande seja eleito presidente agora e seus rivais da direita vençam as eleições legislativas de junho - o que forçaria o novo presidente a uma espécie de consenso com a direita, dificultando a implementação de planos mais ousados da esquerda socialista.

Sarkozy precisa desesperadamente de 80% dos votos dos eleitores de Marine Le Pen - a líder da extrema-direita que conquistou mais de 18% do eleitorado no primeiro turno. O presidente-candidato também luta por pelo menos 50% dos votos de François Bayrou, líder do único partido de centro na França, o MoDem. Mas levou uma bordoada dos dois nesta semana crucial de campanha.

Le Pen anunciou que vai votar em branco - um gesto que, segundo os analistas, tem a intenção de fazer implodir a direita tradicional para aumentar suas chances nas próximas eleições. E Bayrou anunciou que, "em nome dos valores" da França, vai votar com a esquerda, ou seja, em Hollande. Bayrou disse que não pode apoiar a "corrida para a extrema-direita" do presidente.

Como a maior parte dos indecisos é de eleitores de Le Pen e Bayrou, Sarkozy é colocado numa missão perigosa. Além disso, no debate de três horas entre Hollande e Sarkozy, na quarta-feira, o socialista passou no seu grande teste. Antes chamado pelos críticos de "pudim francês" - mole no discurso e nas ideias - ele se mostrou ofensivo e firme diante de um Sarkozy surpreendentemente na defensiva. Pascal Perrineau, diretor do Centro de Estudos da Vida Política Francesa (Cevipof), em Paris, não descarta surpresas:

- As linhas ainda podem se mover, e não se devem descartar elementos de surpresa - opinou.

As últimas oito sondagens publicadas ontem e anteontem dão vitória para Hollande. Mas três delas mostram que a diferença entre os dois diminuiu para cinco pontos percentuais - 52,5% para Hollande contra 47,5% para Sarkozy - e numa, do Ifop para a "Paris Match", para apenas quatro pontos, 52% a 48%. Na pesquisa da Ipsos para o jornal "Le Monde", Hollande perdeu 0,5 ponto na última semana. Já na sondagem da BVA para o "Le Parisien", Sarkozy subiu um ponto, enquanto a Opinion Way, para o conservador "Le Figaro", anuncia que Sarkozy subiu 1,5 ponto. O "Le Monde" estima que 54% dos eleitores de Marine Le Pen vão votar em Sarkozy (ele precisa de 80%) e 15%, em Hollande. Já os partidários de Bayrou estariam divididos: 38% com Sarkozy e 30% com Hollande.