Título: Aqui, só tem coco para quebrar, diz agenciador
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 06/05/2012, O País, p. 3

O forasteiro chega no momento em que Francinaldo de Oliveira dos Santos, 31 anos, dono da Franatur Turismo, em Coroatá, está negociando com "seu Antônio", pelo celular, o agenciamento de 25 trabalhadores. Mas ele, até ali, só havia conseguido três, "Edilson, Elton e Maciel", como explica ao interessado. Embora negue que seja um "gato", como é chamado o agenciador de mão de obra barata, Francinaldo depende dos pedidos que chegam pelo telefone para sobreviver no negócio.

De todos os agenciadores procurados na região, ele é o mais franco e disposto à conversa. Aos poucos, vai abrindo o jogo. "Seu Antônio", o interlocutor ao celular, encomendara trabalhadores para a construção de um presídio em Capela do Alto, São Paulo. O forte da Franatur é a rota da cana de açúcar de São Paulo, que passa por Barretos, Sertãozinho, Dumont, Pradópolis, Colina e Guariba, mas a redução da demanda por mão de obra o obrigou a abrir novos horizontes. Na medida em que a conversa avança, ele não se importa em assumir o que faz:

- Aqui não tem trabalho. Só tem coco para quebrar a R$ 6 por dia - justifica.

Ex-boia-fria, ele viajou pela primeira vez para São Paulo aos 17 anos, onde conseguiu um trabalho em Dumont. Aos poucos, sua casa na cidade foi transformada em ponto de encontro de maranhenses e o estimulou a organizar um esquema regular de viagens. O negócio prosperou e, 13 anos depois, transformou Francinaldo em referência no ramo das agências de turismo da região. Além de passageiros, ele leva mercadorias e até recados no vaivém semanal, sempre às sextas, entre Coroatá e a rota da cana paulista.

Para o chefe do escritório regional do IBGE do Maranhão, Marcelo Melo, agências como a Franatur continuarão esvaziando as cidades do interior enquanto o estado não modernizar e diversificar a economia. Ele disse que essa alteração só valerá a pena, do ponto de vista social, se for capaz de absorver a força de trabalho local:

- Para isso, é preciso um esforço gigantesco na área educacional e de qualificação profissional para inclusão dos trabalhadores no processo.

Melo sustenta que o Maranhão não possui atualmente uma atividade, ou grupo de atividades econômicas absorvedoras de mão de obra. O agronegócio da soja, segundo ele, é intensivo em capital e as atividades ligadas ao extrativismo mineral de grande escala absorvem apenas trabalhadores com maior grau de qualificação. O meio urbano dos municípios, por sua vez, não consegue absorver os que retornam do trabalho temporário no Sudeste.

As delegacias policiais da região refletem o resultado deste processo. Cresceram as apreensões de crack e o número de mortes associadas a trabalhadores que estiveram fora temporariamente. Francinaldo disse que, numa viagem de retorno recente, trouxe de volta três maranhenses jurados de morte pela milícia paulista por envolvimento em furtos.