Título: Na chegada salários abaixo do combinado e moradias precárias
Autor: Castro, Juliana
Fonte: O Globo, 06/05/2012, O País, p. 4

MACAÉ (RJ). Os nordestinos que deixam seus estados em busca de emprego na construção civil em Macaé, no norte fluminense, logo perdem a ilusão que trouxeram junto com as malas. Há pouco mais de uma semana, um grupo de maranhenses de Timbiras, na região dos Cocais, partiu rumo à cidade ainda guardando consigo a expectativa de uma vida melhor. Vão se juntar ao exército de peões que ganham um salário médio de R$ 800.

Muitos dos oriundos da região mais pobre do Brasil relatam que vieram de seus estados com a promessa de receber uma determinada remuneração e, ao chegar à cidade para trabalhar em algumas empreiteiras contratadas para tocar obras do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida, ficam sabendo que receberão menos do que o combinado anteriormente.

Segundo o encarregado de um dos canteiros, algumas empresas bancam a vinda de pessoas, principalmente dos estados do Nordeste. É cenário comum a chegada de um veículo com um grupo destes. Não é por coincidência que eles são maioria em qualquer canteiro de obras da região. Mas, se o trabalhador quiser voltar à terra natal, terá que pagar sua passagem de volta. Sem dinheiro, muitos aceitam a quebra de acordo.

- Chegam aqui e perdem a ilusão - diz o encarregado.

A ampla maioria de nordestinos nas obras se reflete também na composição dos alojamentos, residências de propriedade das empresas ou alugadas por elas, localizadas bem próximas aos canteiros onde são construídos os prédios que atenderão ao programa do Minha Casa Minha Vida.

Alojamentos apertados

e insalubres

Convidado pelos próprios empregados revoltados com as condições de trabalho, O GLOBO entrou no alojamento dos funcionários da obra em Virgem Santa, um dos bairros pobres de Macaé. Em meio a corredores estreitos que separam um imóvel do outro, as portas levam a quartos pequenos, alguns de nove metros quadrados, onde dormem duas pessoas. Outros, pouco maiores, chegam a abrigar até seis trabalhadores. Mesmo sendo minoria, alguns não têm cama e dormem em um colchão sobre o chão.

Três torneiras são disputadas por mais de cem alojados para lavar roupas e escovar os dentes. Por medo de perder o emprego, eles preferem relatar as condições sem serem identificados.

- Olha nosso banheiro. O cheiro é ruim e fica cheio de papel no chão - disse um dos trabalhadores ao mostrar o cômodo, compartilhado entre todos os que moram do local.

A comida é outro motivo de lamúria: vem servida em quentinhas, e a falta de variedade no cardápio não agrada.

- Vem muito arroz por baixo e por cima só umas coisas para enganar - descreve um funcionário.

Embora existam avisos da empresa para manter o local limpo e três tonéis para recolhimento de lixo, há restos de quentinhas espalhados no chão próximo a eles.

O responsável pela obra, Ronaldo Vilella, afirma que as empresas SPL Engenharia e Direcional Engenharia, que executam a construção dos prédios, estão se mobilizando para melhorar as condições em que vivem seus funcionários:

- Sei que é difícil, a gente não é perfeito. Tem coisas em que a gente falha. Mas estamos sempre com esse objetivo (de melhorar).

Vilella diz que, por vezes, é difícil contar com a cooperação dos próprios trabalhadores para manter, por exemplo, a limpeza do local. Segundo ele, quatro pessoas limpam diariamente o alojamento. Sobre o tamanho dos quartos, o responsável pela obra diz que as empresas agem de acordo com as normas do Ministério do Trabalho. Com relação à comida, Vilella explicou que é a mesma servida ao pessoal do setor administrativo.

- A única diferença para ser servida em quentinha é porque não teria como acomodar centenas de funcionários.

Em Macaé, há outras obras do Minha Casa Minha Vida em andamento, como em Imburo, Barreto e Nova Holanda.