Título: Delta também deixou sociedade com Furnas
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 06/05/2012, O País, p. 18

A Delta Construções abandonou obras também no setor elétrico, um ano antes de explodir o escândalo que envolveu a empreiteira nas teias de atuação do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Em 2011, a empreiteira saiu de um dos consórcios responsáveis por três Sociedades de Propósito Específico (SPEs) que tinham Furnas Centrais Elétricas como principal sócia, com 49% das ações. No dia 15 de março do ano passado, uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) homologou a saída da Delta, que mantinha 25% das ações, do grupo que tocava as obras da Transenergia Goiás S/A. A empreiteira passou as ações para a J. Malucelli, que também integrava o consórcio.

A Delta também deixou, em 27 de julho de 2010, o consórcio responsável pela Transenergia São Paulo S/A, que tinha o mesmo modelo da SPE que tocava a obra em Goiás. A empreiteira passou seu percentual de ações (25%) para a J. Malucelli e ficou apenas na Transenergia Renovável.

A saída da Delta aconteceu no mesmo período em que a presidente Dilma Rousseff mudou o comando de Furnas, substituindo o então presidente Carlos Nadalutti por Flávio Decat e reduzindo a influência do PMDB fluminense e, em particular, do deputado federal Eduardo Cunha, na gestão da empresa. Uma auditoria da Controladoria Geral da República (CGU), aberta por Dilma para apurar denúncias de irregularidades na estatal durante o período de influência peemedebista, concluiu que Furnas amargou prejuízo de R$ 10 milhões na montagem do consórcio constituído para a construção da hidrelétrica de Serra do Facão, em Goiás.

Executivos ligados a Cunha em cargos estratégicos

Reportagens publicadas pelo GLOBO, na ocasião, mostraram que executivos ligados a Eduardo Cunha ocupavam cargos estratégicos nos consórcios Transenergia - contemplados com verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - e no projeto Serra do Facão. Um deles era o engenheiro Aluízio Meyer de Gouvêa Costa, ex-presidente da Cedae e denunciado por envolvimento no escândalo das ONGs no governo Rosinha Garotinho, que foi demitido por Flávio Decat da direção das três SPEs Transenergia também no ano passado.

Eduardo Cunha tem atuação parlamentar no setor energético. Uma medida provisória aprovada pelo Congresso e apresentada pelo Ministério das Minas e Energia, em 2008, prevê que as estatais ligadas ao sistema Eletrobrás poderiam ser sócias majoritárias das SPEs. A relatoria da MP foi de Cunha. Telefonemas interceptados pela Polícia Federal na operação Monte Carlo mostram que a cúpula da empreiteira Delta Construções atuou para proteger Cunha em processo que o parlamentar movia contra a jornalista Dora Kramer, de "O Estado de S. Paulo".

Eduardo Cunha afirma que a mudança no texto da MP em nada mudou o rito das SPEs. E que nada teve a ver com a indicação de Aluízio Meyer para Furnas. O deputado afirma apenas que, junto com a bancada fluminense na Câmara, foi responsável apenas pela indicação do ex-presidente de Furnas Luiz Paulo Conde. A Delta informou que deixou os consórcios porque considerou mais indicado concentrar a ação "em que já tinha tradição".

Furnas informou que a saída da Delta das SPEs Transenergia foi uma negociação realizada entre os sócios privados, da qual Furnas não participou, desconhecendo, desse modo, o motivo da saída da empresa.