Título: Estratégia é encontrar falhas na investigação
Autor: de Carvalho, Jailton
Fonte: O Globo, 06/05/2012, O País, p. 19

BRASÍLIA. A estratégia dos grandes advogados contratados para atuar na CPI é destacar uma falha, ainda que microscópica, numa investigação e transformar o detalhe periférico numa questão central. Recentemente, Márcio Thomaz Bastos derrubou a Operação Castelo de Areia com o argumento que a investigação começou a partir de uma denúncia anônima. Antônio Carlos de Almeida Castro inviabilizou a investigação sobre o dinheiro apreendido num escritório da governadora Roseana Sarney (DEM-MA) com o pretexto de que a Polícia Federal não poderia agir no caso sem a autorização prévia dos tribunais superiores.

E é isso que Bastos e Kakay tentarão fazer na CPI e nas investigações criminais em curso contra o bicheiro e seus tentáculos políticos. Por recomendação dos advogados, Cachoeira e Demóstenes não vão jogar lenha na fogueira das denúncias contra eles e meio mundo político do país.

- Ele (Cachoeira) não vai falar. Não está nos planos da defesa que ele fale - disse Bastos.

Bicheiro apela outra vez para o silêncio

A estratégia é a mesma já adotada por Cachoeira no inquérito policial. Preso em 29 de fevereiro, o bicheiro se fez acompanhar de cinco advogados ao ser chamado para depor, mas não respondeu a perguntas do delegado Matheus Rodrigues, o coordenador da Operação Monte Carlo.

Kakay também já demonstrou que pretende continuar usando o silêncio como principal peça de defesa. Demóstenes tem evitado rebater as acusações. O senador não quis dar entrevista nem nos momentos mais agudos da crise quando, naqueles instantes de dúvida, poderia invocar a imagem de caçador de corruptos para protestar inocência.

- Não vamos responder pontualmente as acusações até porque achamos que as investigações devem ser anuladas - disse Kakay.

O advogado, que também defenderá o governador Marconi Perillo, nega que tenha sido contratado por R$ 5 milhões, mas não revela os honorários.

Até o deputado Carlos Leréia (PSDB-GO), flagrado em mais de 70 conversas com Cachoeira, já avisou que permanecerá quieto em relação aos negócios do bicheiro. Leréia pediu para depor na CPI, mas só para se defender. Fazer acusações a quem quer que seja está fora de seus planos.

- Não temos essa pretensão porque não há motivo para isso e nem eu permitiria que meu cliente optasse por esse caminho - disse o advogado Getúlio Humberto.

Mesmo com os recados dos advogados, o senador Álvaro Dias (PSDB-GO) acha que, se Cachoeira for mantido preso, poderá fazer alguma declaração intempestiva e impulsionar a CPI.

- Essas pessoas ficam ciclotímicas. Têm a angústia da prisão. E passarinho quando sai da gaiola canta - arrisca o senador. (Jailton de Carvalho)