Título: Elogios à presidente, mas com ressalvas
Autor: Spitz, Clarice
Fonte: O Globo, 06/05/2012, Economia, p. 41

BRASÍLIA. Que avaliação fazem do governo e da presidente da República alguns dos empresários pesos-pesados que figuram na lista de interlocutores de Dilma Rousseff para assuntos econômicos? Embora a maioria prefira destacar pontos fortes, como gestão e estabilidade, uma enquete realizada pelo GLOBO com 11 representantes da elite do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e riquezas) brasileiro revela críticas, expectativas e um pouco do que se passa pela cabeça do empresariado.

O controlador do Grupo EBX, Eike Batista, destaca a estabilidade econômica iniciada no governo de Fernando Henrique e mantida na gestão de Dilma, mas não poupa os problemas de infraestrutura do país. "Somos arbitradores de ineficiências. Quero ajudar a consertar o Brasil", afirmou ele, que disse não ver pontos fracos no governo Dilma. Já o vice-presidente de Relações Institucionais da Marcopolo S.A., José Antonio Martins, citou como fragilidade da presidente a falta de jogo de cintura para negociar com partidos aliados, realçando que a base de apoio não é tão aliada assim.

Na mesma linha, o presidente da J. Macêdo, Amarilio Macêdo, fez referência aos embates políticos ao mencionar um ponto fraco do governo Dilma: "Depender de uma coalizão que não está alinhada com o seu projeto de governo" (é um ponto fraco), na visão de Macêdo. O mesmo empresário, por outro lado, elogiou a forma como a presidente lida com o problema. Para Macêdo, um ponto forte da atual gestão é justamente "enfrentar os representantes de uma cultura política que trava o desenvolvimento do país".

Os 11 executivos responderam a um questionário enviado pelo GLOBO com 15 perguntas. Eles estavam na lista de 28 convidados que compareceram ao Palácio do Planalto em 22 de março para discutir saídas para a economia brasileira em meio à instabilidade mundial. Na semana passada, Dilma voltou a reunir pesos-pesados do PIB para apresentar as novas regras de remuneração da poupança. Dos 11 empresários que responderam à enquete, sete estiveram no Planalto nessa ocasião.

Um deles foi o presidente da Fiat Chrysler para América Latina, Cledorvino Belini. No item do questionário que indaga sobre um ponto fraco do governo, ele não hesitou em apontar a "velocidade para implementar as transformações necessárias para que o Brasil possa crescer mais". O copresidente da Natura, Pedro Passos, fez crítica semelhante: "Falta de sinalização das reformas necessárias para o país avançar", escreveu Passos.

Para o presidente do Grupo Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, falta ouvir mais a sociedade: "Pouco diálogo com a sociedade civil organizada, Congresso e governantes regionais", observou Azevedo, que esteve no encontro de 22 de março. Na direção oposta, o presidente da EMS, Carlos Sanchez, destacou como ponto forte do governo a "receptividade a novas propostas e demonstração de maior flexibilidade para discutir assuntos polêmicos e novas regulamentações".

A redução de juros, apontada pelo governo como motivo para mexer na poupança, foi citada como uma das necessidades do país. Martins, da Marcopolo, mencionou a queda de juros como ponto forte do governo Dilma. Membro do Conselho de Administração do Grupo Simões, o empresário Antonio Carlos da Silva indicou como ponto positivo a bandeira de Dilma contra as taxas de juros cobradas pelos bancos: "Luta contra os juros e o spread bancário", escreveu.

Melhorar a educação, superar gargalos de infraestrutura e aumentar a competitividade da indústria estão entre os três maiores desafios do Brasil hoje, na visão desses empresários. Dos 11 que responderam ao questionário, seis listaram a educação como um dos três maiores desafios do país. Infraestrutura e competitividade receberam quatro citações.

Quatro elogiaram a gestão ao apontar pontos fortes do governo Dilma. Indagados sobre um ponto fraco da presidente, dois empresários deixaram a questão em branco, e outros dois disseram não ver fraquezas nela. "Não enxergo pontos fracos, mas desafios que são do país, como manter o Brasil em rota de crescimento e avançar no enfrentamento de questões como gargalos de infraestrutura", declarou Eike.

A enquete revelou também peculiaridades da elite econômica. Nenhum dos 11 executivos tirou um mês inteiro de férias em 2011. Conforme os relatos, o período de descanso variou de 20 dias a uma semana, como é o caso do diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira.

Além de Dilma, a única mulher presente ao encontro de março no Palácio do Planalto foi a empresária Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, que não respondeu ao questionário. Os quatro banqueiros que compareceram - dois do Bradesco, um do Itaú e um do BTG Pactual - também não responderam. As 11 empresas cujos representantes responderam são: EBX, Vale, Andrade Gutierrez, Fiat, Natura, EMS, Marcopolo, Rosset, J. Macêdo, Grupo Simões e Confederação Nacional da Indústria.