Título: Eleições na Europa levam incerteza a mercados
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 07/05/2012, Economia, p. 23

Os resultados das eleições de ontem na França e na Grécia deverão aprofundar as incertezas nas bolsas globais nesta semana, já que colocam em xeque a solução da crise das dívidas na Europa, segundo economistas e analistas de mercado. Na Asutrália, a ASX, Bolsa de Sidney, abriu com queda de 1,45%. O resultado na Grécia ameaça a coalização governista e, portanto, os acordos que mantêm o país no euro. Na França, a eleição de François Hollande como presidente deverá trazer mudanças na aliança com a Alemanha, abrindo espaço para flexibilizar a política de austeridade defendida pelos alemães.

Após a Europa abalar os mercados no segundo semestre do ano passado, líderes europeus firmaram um pacto de responsabilidade fiscal e cortes de gastos públicos foram colocados como exigência para pacotes de socorro - como no caso da Grécia. Governos de perfil tecnocrata não eleitos foram apoiados na Itália e na Grécia. O Banco Central Europeu (BCE) atuou para oferecer liquidez ao sistema financeiro e o alívio se traduziu em valorização nas bolsas em janeiro e fevereiro.

Esse caminho foi traçado no âmbito da União Europeia (UE), com apoio do BCE e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas por trás de tudo estava a aliança entre o presidente francês Nicolas Sarkoy, que perdeu a corrida para reeleição ontem, e a chanceler alemã, Angela Merkel - a ponto de a dupla ficar conhecida por "Merkozy". Agora, a reação de investidores dependerá dos rumos da nova aliança entre Merkel e Hollande.

- Agora, teremos a dupla "Merlande", que aparentemente soa pior do que a anterior - ironiza a economista Monica Baumgarten de Bolle, professora da PUC-Rio e sócia da consultoria Galanto.

Com aliança desfeita, aumenta o risco político

Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset Management, vê o resultado das eleições de ontem como um aumento do risco político na crise europeia. Portanto, os mercados não deverão reagir bem esta semana.

- Uma aliança importante foi desfeita - afirma Casotti, referindo-se a Merkel e Sarkozy.

Monica de Bolle aposta numa reação "limitada" nos mercados. Isso porque a eleição de Hollande já era esperada e, na avaliação da economista, não haverá espaço para o novo governo alterar decisivamente a condução da crise.

Ontem, Hollande declarou no discurso da vitória que a "a austeridade não pode mais ser uma fatalidade". Para o professor Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, com o novo governo francês, a política de austeridade defendida pela Alemanha terá que mudar. As altas taxas de desemprego e as diversas trocas de governo na Europa desde o agravamento da crise - com destaque para Itália, Grécia, Espanha e, agora, a França - mostram que o corte de gastos públicos a todo o custo não se sustenta.

No entanto, na avaliação de Monica, da Galanto, uma flexibilização na austeridade ocorreria de qualquer forma. A forma como os cortes de gastos públicos estão sendo feitos, rápido demais, é insustentável. Por isso, até mesmo a chanceler Merkel e o presidente do BCE, Mario Draghi, já começaram a falar em apoio ao crescimento.