Título: Delegado da PF é primeiro a depor na CPI
Autor: Lima Maria; Celso Paulo
Fonte: O Globo, 08/05/2012, O País, p. 3

BRASÍLIA. Na estreia dos depoimentos, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira interroga no início da tarde de hoje o delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza, coordenador da Operação Vegas. O delegado falará sobre o conteúdo do relatório da operação que aponta o envolvimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e dos deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO) com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, conforme revelou O GLOBO em 22 e 29 de março.

Segundo auxiliares do diretor-geral da PF, Souza deverá responder às perguntas de deputados e senadores com base em aspectos técnicos e objetivos da investigação. Não emitirá opiniões pessoais sobre quem quer que seja. Mas, ainda assim, a simples passagem do delegado pela comissão poderá trazer constrangimentos ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O procurador-geral recebeu o relatório da Vegas em 15 de setembro de 2009 e nada fez.

O procurador só pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito contra o senador em 27 de março deste ano, cinco dias depois da primeira matéria do GLOBO sobre as relações entre Demóstenes e o bicheiro. As informações da Vegas foram confirmadas pela Operação Monte Carlo, deflagrada em 29 de fevereiro. O relatório da Vegas mostra que Demóstenes vazou informações confidenciais do Judiciário, do Executivo e do Legislativo para proteger os negócios de Cachoeira, inclusive a exploração ilegal de jogos.

A mando de Cachoeira, o senador também intercedeu no Tribunal de Justiça de Goiás em favor de policiais condenados por extorsão e tortura. Pelo relatório, Demóstenes já usava um rádio Nextel para manter conversas secretas com Cachoeira desde 2008. O rádio, habilitado nos Estados Unidos por Cachoeira, era supostamente à prova de grampo. Numa conversa captada pela PF na Operação Monte Carlo, dois integrantes da organização falam até sobre um "Clube Nextel", o grupo mais próximo de Cachoeira.

Na quinta-feira, a CPI interrogará o delegado Matheus Rodrigues e os procuradores Léa Batista de Oliveira e Daniel de Rezende Salgado, que estão à frente da Monte Carlo. Os três deverão manter a mesma linha de só falar sobre aspectos técnicos da investigação. Léa e Salgado deverão restringir as explicações à investigação sobre corrupção relacionada à exploração ilegal de jogos de azar pelo grupo de Cachoeira. Os procuradores entendem que não cabe a eles tecer considerações sobre o envolvimento de parlamentares com o bicheiro. Essa é uma seara das instâncias superiores do Ministério Público Federal.