Título: Depósitos em poupança batem recorde
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Fonte: O Globo, 08/05/2012, Economia, p. 19

BRASÍLIA. A caderneta de poupança registrou em abril o melhor desempenho dos últimos cinco anos para o período. No mês passado, os depósitos superaram os saques em R$ 1,97 bilhão em meio aos rumores sobre possíveis mudanças na rentabilidade da aplicação. A análise dos depósitos e saques diários não indica a fuga de investimentos de outras aplicações para a poupança, como temia o governo. Demonstra, por outro lado, segundo analistas, a confiança na promessa do governo de que as mudanças não atingiriam os depósitos antigos, como de fato ocorreu.

- O governo foi muito transparente na comunicação e mostrou que o que fez foi muito diferente do congelamento da poupança no governo Collor. O fato de deixar claro que não mexeria nos depósitos já existentes preveniu uma corrida para sacar os recursos - disse o economista Flávio Samarra da consultoria LCA.

A captação líquida (depósitos menos saques) em abril foi a segunda melhor desde quando o Banco Central começou a registrar os dados e montar sua série histórica em 1995.

Nos quatro primeiros meses do ano, a poupança captou R$ 4,1 bilhões, já descontadas as retiradas. No mesmo período do ano passado, esse número estava negativo em R$ 1,9 bilhão. Esse resultado forte do primeiro quadrimestre de 2012 foi impulsionado, principalmente, por causa da captação líquida de março de R$ 2,5 bilhões.

O estoque de recursos aplicados na poupança até abril estava em R$ 433,3 bilhões. De acordo com o IBGE, 98 milhões de pessoas mantêm cadernetas abertas. Juntas, só no mês passado, receberam rendimentos de R$ 2,3 bilhões.

Depois de o governo mudar a rentabilidade da poupança e retirar a última barreira institucional para a queda dos juros, os analistas mudaram suas apostas sobre a taxa básica de juros. A previsão dos economistas de instituições financeiras ouvidos na pesquisa semanal do BC é que os juros vão cair para 8,5% ao ano já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária no fim do mês.

A partir daí, as novas regras para a remuneração da poupança entrariam em vigor, com depósitos feitos a partir de 4 de maio sendo corrigidos pela TR mais 70% da Selic. Especialistas já avaliam que o colegiado pode não parar por aí os cortes dos juros por causa da crise na Europa.

- As mudanças na poupança elevaram a probabilidade de uma redução ainda maior e, dessa forma, fizeram nosso cenário ser revisado para duas reduções consecutivas de 50 pontos básicos (0,5%) nas próximas reuniões, levando a Selic para 8,0% - disse o economista Carlos Eduardo Lopes, do Banco Fibra.

Para o economista da corretora Prosper, Eduardo Velho, há 30% de chance de o BC reduzir os juros até 7,5% e estabilizar a Selic nesse nível até o fim do ano. (Gabriela Valente e Cristiane Jungblut)