Título: UE anunciará ações contra Casa Rosada
Autor: Oliveira, Elaine
Fonte: O Globo, 08/05/2012, Economia, p. 21

BUENOS AIRES e BRUXELAS. O comissário de Comércio da União Europeia, Karel De Gucht, anunciou ontem em conferência sobre as relações entre Brasil e União Europeia (UE), em Bruxelas, que o bloco deverá empreender, em breve, medidas contra a Argentina, por causa da expropriação dos ativos da companhia espanhola Repsol na petrolífera YPF. As ações a serem tomadas não foram detalhadas. O comissário fez, ainda, um pedido ao governo do Brasil, maior economia da América Latina: que resista à onda de protecionismo na região.

Pela primeira vez, o bloco trata a expropriação sob uma perspectiva regional. Essa nova abordagem parece ter sido motivada pela ação boliviana, na semana passada, de nacionalizar a companhia de energia espanhola Rede Elétrica Espanhola (REE).

- Esse tipo de ação é, claro, um problema para Bolívia e Argentina, que encontrarão mais dificuldades para assegurar o investimento estrangeiro de que precisam. Mas é também problema para o Brasil, que tem muito a perder com a tendência de protecionismo - afirmou De Gucht.

Ministro e 600 empresários argentinos vão à Fiesp

Autoridades da UE e da Espanha encontram dificuldades para aplicar uma resposta. Ações duras contra países que estão fora do mercado mundial de títulos de dívidas e que ignoraram multas internacionais aplicadas em disputas anteriores, como a Argentina, são consideradas difíceis. De Gucht escreveu ao governo argentino para expressar preocupação "a respeito do atual clima para negócios e investimentos no país", criticando a expropriação da YPF e também as dificuldades de entrada de importados. Já a Espanha afirmou que pode restringir suas importações de biodiesel argentino.

Enquanto o relacionamento com a UE se deteriora, a iniciativa privada argentina procura apoio econômico no Brasil. O secretário de Comércio Interior argentino, Guillermo Moreno, lidera um grupo de 600 empresários de seu país que hoje participam de uma rodada de negócios na sede da Federação de Indústrias de São Paulo (Fiesp). Moreno, funcionário polêmico, acusado de maquiar as estatísticas Indec (o IBGE argentino) e de ser o mentor da estratégia protecionista de comércio exterior adotada pelo governo Cristina Kirchner, deve encontrar-se com empresários brasileiros, muitos descontentes com a política comercial da Casa Rosada.

Segundo o embaixador da Argentina no Brasil, Luis María Kreckler, o objetivo da missão é "não somente vender mais, mas também vender melhor, o que significa aumentar valor agregado e oferecer mais emprego".

(*) Com agências internacionais