Título: Alvo de protecionismo Brasil ajudará Argentina
Autor: Oliveira, Elaine
Fonte: O Globo, 08/05/2012, Economia, p. 21

BRASÍLIA. O Brasil está disposto a financiar exportações de bens e serviços para a Argentina para ajudar o vizinho a recuperar sua economia, mesmo sendo alvo de medidas protecionistas. Um encontro entre autoridades dos dois países deve ocorrer na próxima semana para tratar do tema. Em um primeiro momento, a ideia é usar recursos do BNDES e dos atuais programas de crédito às vendas externas para melhorar o intercâmbio bilateral. No entanto, não se descarta o repasse direto de dinheiro a empresas daquele país.

As exportações brasileiras para a Argentina caíram substancialmente no quadrimestre, em parte por causa das barreiras ao comércio, mas também em decorrência da crise no país vizinho. Os embarques para a Argentina caíram 27,1% em abril, em relação ao mesmo período no ano passado. A média diária exportada sofreu um decréscimo de US$ 92,6 milhões para US$ 67,6 milhões. No acumulado do ano, a redução ficou em pouco mais de 11%.

Uma fonte do governo envolvida na discussão das medidas para ajudar a Argentina disse que tudo está sobre a mesa. A justificativa é que o país está praticamente sem crédito no mercado mundial e é um parceiro importante a ser preservado.

Em 2011, BNDES investiu US$ 3,1 bi no país vizinho

- Estão sendo pensadas formas de salvar a Argentina. Como o BNDES tem bastante capital, trata-se de uma alternativa interessante, desde que esse dinheiro não faça falta para empresas brasileiras - disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Dados do BNDES mostram que a Argentina é o país que mais tem se beneficiado do financiamento de recursos pelo banco, destinados, em sua maioria, à infraestrutura. Em 2011, os investimentos naquele país somavam US$ 3,1 bilhões. Em seguida, estavam a Venezuela (US$ 1, 2 bilhão) e a República Dominicana (US$ 978 milhões).

Para o economista da MCM Consultores, Marcos Fantinatti, nada deve ser feito sem uma ampla discussão. O Brasil sempre abriu exceções e é preciso cuidado para não ser generoso demais com um país que tem feito de tudo para restringir as importações brasileiras.

- Não adianta darmos dinheiro a um país que declara não ter crédito, se esse país receber dinheiro e continuar não comprando do Brasil - disse Fantinatti.

Especialmente no caso de produtos industrializados, além de o consumidor argentino ter menos dinheiro para comprar bens importados, o governo do país impôs diversas barreiras às importações, como o desembaraço mais lento de mercadorias, o que dificulta as exportações brasileiras.

Pela primeira vez na história do comércio exterior brasileiro, a Argentina deixou, em abril, a terceira posição entre os maiores mercados para produtos brasileiros, perdendo lugar para os holandeses. Já o saldo da balança comercial do Brasil ficou positivo em US$ 560 milhões, na primeira semana de maio, resultado de exportações de US$ 3,749 bilhões e importações de US$ 3,189 bilhões. Considerando as exportações médias feitas por dia da semana passada, houve crescimento de 18,5% ante média do mesmo período de 2011.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 08/05/2012 04:04