Título: Nomeação enfraquece grupo de Lupi no partido
Autor: Braga, Isabel; Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 01/05/2012, O País, p. 9

Brizola Neto minimiza divergências, mas aliados do ex-ministro admitem que ele pode perder a presidência do PDT

TROCA DE COMANDO

BRASÍLIA. O novo ministro do Trabalho, Brizola Neto (PDT-RJ), atribuiu a arestas naturais do processo de decisão as críticas feitas por deputados do PDT à escolha de seu nome pela presidente Dilma Rousseff. Ele minimizou as queixas dos colegas do partido e disse que buscará a unidade em torno de seu nome.

- É uma questão menor (as possíveis críticas). Existe uma questão maior que une o partido, que é a identidade programática que vem desde o governo Lula e continua no governo Dilma. Isso vai superar possíveis divergências - afirmou.

Segundo Brizola Neto, no processo de escolha do substituto do ex-ministro Carlos Lupi, atual presidente da legenda, que se arrastou por quase cinco meses, muitos deputados se alinharam a determinados nomes, manifestando preferências, o que acabou criando divergência. Estavam no páreo também o deputado Viera da Cunha (RS) e o secretário-geral do PDT, Manoel Dias.

Após conversar com Dilma, o ministro disse que ligou para vários senadores e deputados, e afirmou que o clima é de cooperação, refutando a queixa de que faltou diálogo:

- A presidente conversou com o presidente Lupi, houve o rito de chamar para conversar. Ela disse que era importante que o partido desse essa sinalização de unidade. Vamos assumir, será uma vitória do conjunto do partido - disse Brizola Neto.

Neto do ex-governador do Rio Leonel Brizola, o novo ministro foi vereador pelo Rio em 2004 e eleito deputado federal em 2006. Em 2010, não se reelegeu, mas ficou como suplente e passou a exercer o mandato na vaga de Sérgio Zveiter. Foi também secretário de Trabalho do governo do Rio. Começou a trabalhar como secretário particular do avô aos 16 anos. Ia ao apartamento de Brizola diariamente, e cuidava da agenda do avô.

Para Brizola Neto, a unidade partidária não será tarefa fácil; há 19 meses ele trava contra Carlos Lupi uma batalha que já dura 19 meses. O conflito começou logo após o resultado das eleições de 2010. Ao se ver derrotado nas urnas - ficando apenas com a primeira suplência de deputado federal -, Brizolinha, ou Carlito, passou a atacar Lupi, que era na época ministro do Trabalho. Neto dizia que Lupi não se empenhou para elegê-lo.

O grupo de Lupi rebatia, lembrando que durante quase quatro anos Brizola Neto manteve seu braço direito, Renato Ludwig, no comando do Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para a Juventude.

Primeiro, Brizola Neto defendeu que Lupi deveria sair do ministério na transição entre os governos Lula e Dilma. Sem sucesso, tentou retomar para a família Brizola o controle da legenda. Em acordo com seus irmãos Juliana e Leonel, começou uma campanha para que a direção fosse eleita por voto direto, porque todas as instâncias de direção estão tomadas por aliados de Lupi.

Mesmo os aliados mais fiéis de Lupi já admitem que o ex-ministro terá de trabalhar muito para se segurar na cadeira de presidente do partido, que controla desde a morte de Brizola em 2004. Com o ministério nas mãos, Brizola Neto terá uma poderosa máquina para convencer "lupistas" a mudar de lado.